Leituras
Textos
- Apresentação
2016
- Brasília: segregação e utopia na cidade moderna
- Notas sobre o ponto de inflexão "Aprendendo com Las Vegas"
- Notas sobre o Moderno: a(s) Carta(s) de Atenas e a emergência do Team X
- Notas sobre Ponto de Inflexão “Brás de Pina”
2009
- Cronologia do Pensamento Urbanístico
- Teoria Historiográfica e a Cronologia do Pensamento Urbanístico.
- Historiografia de Resistências ao Pensamento Urbanístico Hegemônico
Paineis
- Poster XIV Seminário de História da Cidade e do Urbanismo - SHCU 2016, FAU/USP - São Carlos
- Poster XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo - SHCU 2014, FAUNB/UnB - Brasília
- Cronologia do Pensamento Urbanístico: recorte contemporâneo (Icaro Villaça e Diego Mauro - bolsistas IC)
Cronologias
- Cronologia das Cidades Utópicas (Adriana Caúla - anexo da tese de doutorado)
- Cronologia dos Documentários Urbanos (Silvana Olivieri - anexo da dissertação de mestrado)
- Cronologia da Habitação Social (Leandro Cruz - anexo da dissertação de mestrado)
- Cronologia de uma cidade enunciada (Osnildo Wan-Dall - Anexo da dissertação de mestrado)
Notas sobre o Moderno: a(s) Carta(s) de Atenas
e a emergência do Team X
Gabriela Rabelo (graduanda FAUFBA, bolsa CNPq)
Igor Queiroz (mestrando PPG-AU/FAUFBA, bolsa CNPq)
Janaina Chavier (doutoranda PPG-AU/FAUFBA, bolsa CNPq, CAPES/PDSE)
Leonardo Vieira (graduando FAUFBA, bolsa CNPq)
Milene Migliano (doutoranda PPG-AU/FAUFBA, bolsa FAPESB, CAPES/PDSE)
Solange Valladão (mestranda PPG-AU/FAUFBA, bolsa CAPES/DS)
[...] o tempo e o texto por onde erra o historiador embora se apresente – e há que buscar fazê-lo – como preciso, neutro, situado – são como uma terra estranha. [...] Forma-se e desfaz-se em suas próprias camadas de éter… É transitória. São nuvens, conjunto de nuvens de sentidos que, no entanto, passam ou podem passar ao menor sopro ou são varridas pelas tempestades. São nebulosas que embora consolidadas e densas não escondem sua natureza etérea, desgarrada, solta, estrangeira, incapturável: longínquas, inalcançáveis. (PEREIRA, 2013, p. 17-18)
O debate acerca do movimento moderno em arquitetura e urbanismo emerge nesta leitura a partir do choque entre dois Pontos de Inflexão:1 a(s) Carta(s) de Atenas(s) (1933-1942) e a emergência do grupo Team X (1943), fundamentais para o entendimento do momento histórico de construção do próprio campo disciplinar e projetual do urbanismo. Debate este que não está pautado num recorte temporal, como o traçado pelas metodologias de trabalho anteriores na Cronologia do Pensamento Urbanístico,2 e sim no embate (convergências ou divergências; similaridades ou oposições) entre formas de pensar, práticas projetuais, fatos e eventos que conformam, sem delimitar, “nuvens” de pensamento.
A proposta mais relevante da Cronologia do Pensamento Urbanístico não é desenvolver simplesmente uma linha do tempo, mas, graças a ela, chamar a atenção para a circulação sistêmica de dados entre determinados círculos urbanísticos, formando vastas redes de conhecimentos que atuam de maneira complexa. Neste contexto, as “nebulosas” do pensamento são, atualmente, a principal ferramenta de pesquisa do site, pois permitem analisar e cotejar informações relevantes e visualizar seus desdobramentos e repercussões. Elas cumprem um dos principais objetivos da pesquisa: o de estabelecer condições de possibilidades para a emergência de novos entendimentos sobre a circulação de ideias no campo do urbanismo.
As “nebulosas” do pensamento urbanístico estão estruturadas a partir de uma constelação de projetos, eventos, publicações e fatos relevantes e suas correlações. Através desta ferramenta, é possível perceber, de certa forma, a organização interna da pesquisa (os Pontos de Inflexão, ou PIs) e o alcance da circulação de ideias, suas relações, vocabulários, autores, temas, planos, projetos e as próprias redes intelectuais de pensamento sobre a cidade e o território que alimentam a dinâmica destes fluxos.
Esta construção historiográfica busca nas brechas, nos acontecimentos marginais, mesmo que inseridos entre contextos maiores na história,3 que muitas vezes escapam ao próprio campo disciplinar do urbanismo, formas de pensar que ajudem a enxergar e compor uma outra escrita da história, onde diversos tempos se sobrepõem, fazendo emergir questões que, dentro da historiografia tradicional, passam despercebidas ou são, na maioria das vezes, invisibilizadas. Ou, nas palavras de Margareth da Silva Pereira, é preciso trazer à tona estas pequenas nuvens que são “clareiras desse céu opaco que esconde tudo”. É preciso, portanto, entender o momento histórico que diz respeito a esta leitura dentro de uma conformação maior na constituição do que se pode chamar urbanismo moderno que, segundo Paola Berenstein Jacques:
Podemos, grosso modo, classificá-lo em três momentos distintos, que se sobrepõem: a modernização das cidades, de meados e final do século XIX até início do século XX; as vanguardas modernas e o movimento moderno (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, CIAMs), dos anos 1910-20 até 1959 (fim dos CIAMs); e o que chamamos de modernismo (ou moderno tardio), do pós-guerra até os anos 1970. (JACQUES, 2012, p. 32, destaque original)
Os Pontos de Inflexão CIAM IV – 1933 (S. S. Patris II: Marselha/Atenas) – A Cidade Funcional e a(s)Carta(s) de Atenas e CIAM IX – 1943 (Aix-en-Provence) – Habitat e a Formação do TEAM X/Crítica à Cidade Funcional conformam o primeiro período da pesquisa do grupo da UFBA dentro da Cronologia do Pensamento Urbanístico.4 O debate começa a ser traçado, portanto, a partir da crítica ao próprio movimento moderno.
Figura 1: Carta de Le Corbusier ao editor Karl Krämer (1961): “Montam sobre os (nossos) ombros, mas não dizem obrigado”. Fonte: COHEN, 2013
Inicialmente, buscou-se entender o urbanismo funcionalista a partir da sua crítica, formulada pelo Team X, na história dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (do francês Congrès Internationaux d’Architecture Moderne, ou, simplesmente, CIAM), iniciando a conformação deste debate a partir de uma nebulosa de ligações primárias ao grupo Team X (CIAM IX – 1943), para então se desdobrar em outros PIs, que vieram a conformar ou não, outras nuvens de pensamento.
Naquele momento, na tentativa de evidenciar este debate numa produção nacional, sobretudo na cidade de Salvador, optou-se pela formulação do segundo PI, relativo à criação do EPUCS (Escritório de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador). Entretanto, apesar de ser considerado uma experiência pioneira no Brasil, o EPUCS está inserido dentro de uma lógica muito mais ampla, uma vez que a questão discutida pelo Escritório é o processo de trabalho proposto pelo ideário da Cidade Funcional de Le Corbusier. Este tema, que emerge a partir das discussões do CIAM IV, de 1933, conta com elaborações das várias versões da Carta de Atenas, que surge a partir do encontro que lhe deu origem. O próprio estudo do EPUCS é introduzido na Cronologia do Pensamento Urbanístico a partir da tradução da Carta de J. L. Sert (publicada em 1942, no livro Can our cities survive? An ABC of urban problems, their analysis, their solutions), feita por Admar Guimarães, membro da equipe do Escritório, na qual o autor intercala à tradução, notas sobre a Cidade do Salvador e aos trabalhos do EPUCS.
Por considerar-se pontos de inflexão acontecimentos que provocam rupturas dentro dos debates urbanísticos, o PI que emergiu neste momento da pesquisa, para tratar do debate do urbanismo funcionalista, foi, portanto, o CIAM IV e as diversas versões da(s) Carta(s) de Atenas. A multiplicidade de documentos dissonantes do CIAM IV alargaram reflexões em torno do movimento moderno e da universalidade dos princípios funcionalistas.
Estes dois “acontecimentos” principais, de princípios aparentemente antagônicos, apresentam diversas relações e cruzamentos, entendidos aqui como momentos de inflexão dentro da história do pensamento urbanístico. Neste texto, pretende-se, a partir da narrativa historiográfica dos acontecimentos referentes aos Pontos de Inflexão, evidenciar os motivos que levaram à emergência destes grupos e apresentar alguns verbetes relacionados ao contexto dos acontecimentos, os movimentos, desdobramentos, atravessamentos e relações existentes nesta nebulosa5 do pensamento urbanístico moderno em arquitetura e urbanismo. De maneira a facilitar o entendimento do leitor, o texto será apresentado de maneira cronológica.
Urbanismo, de Cerdà a Le Corbusier
Ignoramos ou conhecemos mal o fato de que a constituição e a autorização de um discurso fundador de espaço é recente e ocidental. Sua disseminação era inevitável desde que, mercê da revolução industrial, o padrão cultural do ocidente se impunha, de bom ou mau grado. Pois, somente a partir da segunda metade do século XIX é que o discurso fundador do espaço enunciou suas pretensões científicas e designou seu campo de aplicação com o termo urbanismo; este termo, na verdade, foi criado, e definia a vocação da “nova ciência urbanizadora”, em 1867 por [Ildefonso] Cerdà.
No entanto, não se trata de um verdadeiro começo. Para captar a força da transgressão e de ruptura que anima os escritos teóricos do urbanismo, é preciso tentar apreender seu projeto fundador antes das datas convencionadas, em seu aparecimento verdadeiro e ignorado, no alvorecer da primeira Renascença italiana. Nesse caso, como em muitos outros, uma formação discursiva e uma prática cuja paternidade se atribui ao século XIX, e que se localiza numa configuração epistêmica que teria começado a definir-se na virada dos séculos XVIII e XIX, apenas consagram rupturas já operadas e organizam domínios já definidos. (CHOAY, 1985, p. 03)
O termo urbanismo (do latim urbs, cidade) surge a partir dos trabalhos do engenheiro espanhol Ildefonso Cerdà,6 mais especificamente sua Teoría general de la urbanización (Teoria Geral da Urbanização) de 1867. Cerdà determinou o urbanismo como uma nova disciplina científica que surgia de forma diferente, uma “nova ciência de organização espacial das cidades” (CERDÀ, 1867, apud CAÚLA, 2008, p. 01), baseada em três códigos de escrita/representação: o texto escrito, o desenho topográfico e a estatística. (CALABI, 2012, p. 27) Os campos profissional e acadêmico da arquitetura, a partir de então, iniciam uma fase de estudos e planos reguladores para as cidades, que surgem com o intuito de controlar o crescimento desordenado e orgânico como acontecia nas cidades medievais, além do surgimento de novas cidades similares àquelas.
Entretanto, não se pode afirmar que as vilas e cidades anteriores à Cerdà não possuíam planos ou bases de organização pensadas racionalmente. As primeiras problemáticas sobre o urbanismo são, certamente, mais antigas do que o termo. Porém, reflexões sobre o urbanismo aparecem, no contexto de disciplina, a partir da segunda metade do século XIX, quando o discurso fundador de espaço enunciou suas pretensões científicas e designou seu campo de aplicação com o termo urbanismo. (CHOAY, 1979, p. 03)
Segundo Kenneth Frampton (FRAMPTON, 2008 [1997], p. 13), no século XIX, as cidades passaram por transformações culturais, territoriais e técnicas. Aliado a isso, há uma queda no índice de mortalidade devido aos avanços na área da medicina, que acabam por gerar uma concentração urbana muito maior. Mudanças também aconteceram nos campos da arquitetura e do urbanismo, no que diz respeito a questões técnicas atreladas a um domínio maior sobre materiais e métodos construtivos. Surge, nesse período, a possibilidade dos profissionais urbanos – na época, sanitaristas, engenheiros e urbanistas – promoverem intervenções nas cidades, que, de forma abrupta, transitavam de uma tipologia de cidade tradicional para uma metrópole sempre em expansão.
A transformação dos meios de produção e transporte, assim como o surgimento de novas funções urbanas, contribuíram para romper os velhos quadros, justapostos, da cidade medieval e da cidade barroca. (CHOAY, 1979, p. 04) Os núcleos urbanos, a partir dos processos de industrialização, deixaram de ser limitados por perímetros definidos, que se expandiram à sua volta em todas as direções, sem obstáculos naturais ou artificiais. (CALABI, 2012, p. 16) Este crescimento volátil e desenfreado das cidades, consequentemente, levou à transformação de bairros antigos em áreas miseráveis, com moradias baratas e cortiços lotados. A partir destes processos, questionamentos sobre a racionalização das cidades passam a ser levantados no meio profissional da arquitetura e observa-se, a partir daí, mudanças significativas no pensamento urbanístico.
Os profissionais da arquitetura e do urbanismo iniciam, então, experimentações projetuais, proposições e planos para cidades racionalmente pensados. Muitas destas experimentações posicionavam-se em um plano imaginário, “caídas de paraquedas em terras incontaminadas pela irracionalidade capitalista”. (CALABI, 2012, p. 22) Opondo-se a uma expressão de desordem da cidade industrial, emergem propostas de ordenamentos urbanos livremente construídas através de uma reflexão que se desdobra no imaginário. Essas propostas, por não poderem dar forma prática aos questionamentos da sociedade, situam-se na dimensão da utopia. (CHOAY, 1979, p. 07)
O papel em branco, a tela em branco podem ser tomados como espaços abertos à construção utópica, espaços do pensamento urbano, onde os arquitetos e urbanistas erigem suas cidades impulsionados pelo seu desejo, como crítica e resistência ao mundo que os circunda. São eles também seres desejantes de outros mundos, de outras cidades, criadores de imagens utópicas urbanas. (CAÚLA, 2008, p. 02)
No início do século XX, aparece, neste panorama urbano, a figura do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Corbusier é um desses pensadores7 da discussão da cidade moderna, propondo como fissura no pensamento urbanístico a Cidade Funcional. Seu projeto modelo, apresentado em 1922 como Ville Contemporaine de trois millions d’habitants (A cidade contemporânea de três milhões de habitantes), propunha um ordenamento projetual, racional e articulado à geometria. (CHOAY, 1979, p. 188)
Para justificar as suas denúncias sobre a cidade moderna, Le Corbusier, em seus livros Vers une architecture (Por uma Arquitetura) (1923) e Urbanisme (Urbanismo) (1925), indica uma série de imagens, fotomontagens e recortes de jornais, tensionando a situação das cidades a partir de análises sobre as tecnologias contemporâneas. “As notas oficiais desenham a curva registrada pelo aparelho sismológico do mundo, as ‘notícias do cotidiano’ martelam diariamente o drama que se passa em toda parte e à nossa porta; explosões de ciência, de história; a economia, a política”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 117) A imagem da cidade é, assim, decomposta em elementos que a constituem fisicamente (casas, ruas, canais, ferrovias, parques e jardins, indústrias). (CALABI, 2012, p. 23) São, então, conferidas outras escalas de apropriação. “Ao espaço fragmentado, mas ordenado, da cidade-objeto, corresponde rigorosamente o espaço dissociado, mas geometricamente composto, da cidade-espetáculo”. (CHOAY, 1979, p. 23)
Em Urbanismo, as várias páginas dedicadas aos recortes de jornais da época confirmam as hipóteses de Le Corbusier: o desaparecimento quase total dos cavalos de Paris; o carro não mais como uma prova manifesta de luxo, mas um instrumento de trabalho.
Em 1922, os diários ainda estavam mudos à respeito das questões do urbanismo; em 1923, o aparecimento intermitente de artigos consagrados a tal questão era significativo; começava-se a avaliar que se tratava de uma questão vital. Em 1924, pode-se dizer que toda a imprensa noticiou, e quase diariamente; realmente o urbanismo fazia que falassem dele, pois Paris estava doente, muito doente. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 24)
Uma vez ilustrados os problemas, concluía o arquiteto: “Eis um recorte de jornal que diz o que se torna o caminhão na vida urbana. Então? Então é preciso conceber ruas que levem em conta o caminhão”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 125) As cidades, enquanto instrumentos ordenadores e de trabalho, não cumpriam, normalmente, essa função. Eram ineficazes nesse sentido. A desordem dominante era o principal agravante, “já não eram dignas da época, nem dos urbanistas ou dos seus habitantes”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 125)
A Cidade Funcional, assim como as demais propostas de cidades-modelo modernas, apresentava-se como representação da ordem a partir de escalas. A casa, o trabalho, o lazer e a rua deveriam estar em ordem constante. Uma vez em desordem, elas se oporiam ao morador/habitante, assim como se opõe à natureza, constantemente controlada e combatida pelo homem moderno. A fim de dar fundo as suas respostas formais, o arquiteto buscar nas ruas o que, para ele, seriam os maiores problemas das cidades modernas:
Poema de Edgar Poe? Não. Uma picaretada catastrófica nessa rua milenar que já não rima com nada. A rua é uma máquina de circular; é uma fábrica cujas ferramentas devem realizar a circulação. A rua moderna é um órgão novo. Urge criar tipos de ruas que sejam equipadas como é equipada uma fábrica. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 124)
É a partir deste conceito de rua como justificativa para a construção do seu ideário que Le Corbusier direcionava o seu discurso positivista. Em seus projetos, ficava claro que o arquiteto planejava abolir a rua da cidade ou, como ele mesmo defendia, por serem ideias obsoletas, “não deveria existir nada parecido com uma rua; temos de criar alguma coisa para substituí-lá”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 128)
Figura 2: Alison e Peter Smithson: Grille Urban Reidentification, CIAM IX (1953). Fonte: RISSELADA e HEUVEL, 2005
Le Corbusier propõe projetos abstratos e utópicos, inserindo e difundindo ideias muito próximas em contextos dos mais adversos, que vão desde o Plan Voisin para Paris (1925), ao Plano para São Paulo (1929). Através de fotografias aéreas, maquetes, croquis, perspectivas e desenhos geométricos, fez emergir um movimento de vanguarda na Europa a partir de 1928, ano da primeira edição dos CIAMs. “As transformações em seus protótipos urbanos da década de 1920, em que a ‘hierárquica’ Ville Contemporaine de 1922 se converteu na Ville Radieuse8 ‘sem classes’ de 1930, implicou mudanças significativas no modo de Le Corbusier conceber a cidade da era da máquina”. (FRAMPTON, 2008, p. 217, destaques originais)
Navios, Cidades e Cartas
Dissipar o irracional e o meramente ornamentado. Purificar o corpo e curar a alma. A arquitetura moderna, e seu desejoso estilo cosmopolita e internacional, estava cheia de boas intenções. Ao anunciar um novo começo, negou a história e por vezes o próprio presente. Por algum tempo, pelo menos na Europa, pareceu possível manter-se nesta ilusão. Então veio a queda: arquitetos se rebelaram contra restrições, moradores rejeitaram disciplinas severas e historiadores começaram a expor suas conexões. No entanto, o pensamento modernista mantém algumas de suas atrações; há uma sedutora disciplina do corpo e do espírito e uma nostalgia frequente por suas utopias já́ há tanto questionadas.
Os CIAMs constituíram uma série de eventos organizados pelos principais nomes da arquitetura moderna europeia, a fim de discutir os rumos da arquitetura, do urbanismo e do design no início do movimento.9 Coube à Hélène de Mandrot estimular aquilo que veio a se constituir o CIAM I,10 realizado no Castelo de La Sarraz, na Suíça, em 1928. Anunciou às delegações na época:
[...] o objetivo principal e a finalidade que aqui nos reúne, é articular os diferentes elementos da arquitetura atual em um todo harmônico, e dar à arquitetura um sentido real, social e econômico. A arquitetura deve, portanto, liberar-se da estéril influência das Academias e de suas fórmulas antiquadas. (SAMPAIO, 2001, p. 31)
O ideário moderno dos CIAMs nasce, portanto, sob o compromisso de dar um sentido social e econômico à arquitetura, vinculado à noção de um todo ordenado que rejeita o academicismo em voga no ensino e nas práticas. No primeiro documento publicado – a Declaração de La Sarraz11 – já́ se assume uma atitude radical em relação ao planejamento de cidades, ao declarar que a essência do urbanismo era de ordem funcional, em defesa da introdução de dimensões normativas e da eficiência dos métodos de produção.
No Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, realizado em 1928, em La Sarraz (França) – o I CIAM –, o urbanismo é definido como organização das funções da vida coletiva, que envolve a cidade e o campo, cuja essência é a ordem funcional, já́ se apontando as três funções-chave da cidade – habitação, trabalho, lazer – a serem articulados pela circulação. Para efetivar esses princípios, controle do uso do solo, a legislação e a regulação do tráfego são destacados. (FELDMAN, 2005)
Os CIAMs, segundo Kenneth Frampton, passaram por três etapas distintas de desenvolvimento. Os CIAMs I a III, dominada pelos arquitetos de língua alemã (suíços e alemães), de tendência socialista, trata do início do movimento com preocupações sociais e técnicas (racionalização da construção). Os CIAMs IV a VII, com domínio da língua francesa, representado pela figura de Le Corbusier, dá ênfase nas discussões para uma doutrina funcionalista urbana, a Carta de Atenas. Os CIAMs VIII a X, com o domínio da língua inglesa (ingleses e holandeses), trata da emergência do Team X, crítica e dissolução do movimento de ordem funcional, de defesa da introdução de dimensões normativas e de eficiência nos métodos de produção. (FRAMPTON, 2008, p. 328)
Entre julho e agosto de 1933, grupos de arquitetos representantes de 10 idiomas partiram a bordo do navio S. S Patris II, de Atenas a Marselha, através dos mares da França, Itália e Grécia. A viagem foi, na verdade, a ocasião do CIAM IV,12 sob o tema A Cidade Funcional, e pretendia ser o primeiro de uma série de congressos sobre o assunto. Um congresso de esplendor cênico, mas que aconteceu bem longe da realidade da Europa industrial. Uma suspensão temporária da realidade que resultou, a partir da análise de 33 cidades,13 num documento de conteúdo dogmático, abstrato, desprovido de valor simbólico e cultural e, sobretudo, de aplicabilidade universal: a Carta de Atenas.
Ao descrever a posteriori14 o clima do congresso, as palavras de Le Corbusier deixam escapar detalhes importantes sobre o evento. Quando se pensa na ideia de “um só́ ruído” e “uma só́ atmosfera”, num congresso que se propunha criar um “modelo” universal de urbanismo, ou, como ele define, “o instrumento que indicará o destino das cidades”, ficaram ausentes as diversas realidades não contempladas nos diagnósticos15 realizados sobre as cidades analisadas (sendo 28 delas europeias, 3 americanas e 2 asiáticas). Como bem afirma o documento, estas “ilustram a história da raça branca nos climas e latitudes mais diversos”. (SAMPAIO, 2001) Finalmente, as questões formuladas possuem generalidades demasiadas e afastam-se muito das questões práticas levantadas nos primeiros CIAMs. Por exemplo, para cidades tão diferentes como Paris e Varsóvia, eram vislumbradas as mesmas soluções universais de ordenamento do espaço urbano.
É importante situar a discussão da Cidade Funcional em termos de instrumentos tecnológicos disponibilizados para o planejamento urbano a partir da Primeira Guerra Mundial. Ao discutir os problemas urbanos neste período, os arquitetos apontavam para as novas perspectivas reveladas pelas fotografias aéreas, que permitiam uma visão total das cidades até́ então desconhecida.
Nas vistas aéreas, as cidades eram apreendidas em sua totalidade, como unidades, em uma escala que não distinguia edifícios individuais, ruas, lotes, etc, mas tomava o objeto urbano como um todo, colocando novos problemas. [...] A precisão da imagem nas fotos aéreas resultava em registros formais que revelavam a composição da totalidade urbana. (...) essa disposição para lidar com o objeto total era também um novo instrumento de controle nas mãos do planejador. (BARONE, 2002, p. 43)
Neste caso, os projetos e maquetes são geralmente concebidos em uma perspectiva aérea. As projeções são representadas num “voo de pássaro”, de cima para baixo, apontando para uma visão da ação de arquitetos urbanistas como artífices da ordem. Dessa forma, o projeto constitui um ato divino, demiúrgico e de postura excludente e estatizante. Os mapas oferecem uma visão do alto, totalizante. A imagem de Le Corbusier apontando de cima para baixo para a maquete do Plan Voisin é emblemática, pois reflete o olhar hierárquico do arquiteto, a maneira vertical, manipuladora e totalizadora de abordar uma dada situação.
Figura 3: Le Corbusier (1929): Morro da Favella, Rio de Janeiro; Plano para o Rio de Janeiro. Fonte: CORBUSIER, 2004 [1930]
Todas as ditas Cartas de Atenas referem-se, de fato, às discussões acerca da Cidade Funcional, travadas durante o CIAM IV, em 1933. As cento e onze propostas da Carta consistiam em um manifesto sobre os problemas das cidades modernas e, em parte, de propostas para a correção dessas condições, agrupadas sob quatro categorias principais: Habitar, Recrear, Trabalhar e Circular. A sobrevalorização da questão da unidade de habitação, tomada como função primordial, acabou por criar um achatamento das diferenças entre o público e o privado na cidade. Pretendia a Carta “dar a cada função e a cada indivíduo seu justo lugar”, fundamentada na “discriminação entre as diversas atividades humanas que reclamavam individualmente seu espaço particular”.
O CICLO DAS FUNÇÕES COTIDIANAS: HABITAR, TRABALHAR, RECREAR-SE (RECUPERAÇÃO), SERÁ REGULAMENTADA PELO URBANISMO DENTRO DA MAIS ESTRITA ECONOMIA DE TEMPO, CONSIDERANDO-SE A HABITAÇÃO COMO O CENTRO PRÓPRIO DAS PREOCUPAÇÕES URBANÍSTICAS E O PONTO DE UNIÃO DE TODAS AS MEDIDAS. (...) O zoneamento, tendo em conta as funções-chave: habitar, trabalhar, recrear-se porá́ ordem no território urbano. A circulação, quarta função, não deve ter senão um objeto: por em comunicação, sob forma útil, as outras três. (CIRPAC, 1950 [1941], destaques originais)
O urbanismo moderno deveria ter, a partir de então, quatro objetivos: 1) Assegurar aos homens alojamento saudável, isto é, lugares em que o espaço, o ar puro e o sol, estivessem amplamente garantidas; 2) Organizar os lugares de trabalho de modo que este, em vez de ser uma penosa sujeição, recuperasse o seu caráter de atividade humana natural; 3) Prever as instalações necessárias para uma boa utilização das horas livres, fazendo-as benéficas e fecundas e; 4) Estabelecer o vínculo entre estas diversas organizações por meio de uma rede circulatória que garantisse os intercâmbios, sem deixar de respeitar as prerrogativas de cada uma delas.
As propostas da Carta de Atenas tornam-se tentadoras e ganham resultados significativos a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, quando a destruição das cidades europeias exigia urgência nas políticas de reconstrução. O ideário funcionalista, amplamente divulgado pelas revistas internacionais de arquitetura, foi adotado como solução genérica nas cidades arrasadas. Era a efetivação da tão sonhada tábula rasa moderna. O movimento moderno em arquitetura e urbanismo pautava-se na desconsideração das culturas, das diferenças, da própria história das cidades e, sobretudo, na crença do poder transformador do campo disciplinar. Trabalhou dessa maneira no sentido de desqualificar os homens comuns no que diz respeito aos aspectos ligados à vida urbana. Elegeu especialistas que “viam a cidade” e que possuíam o conhecimento científico e métodos eficientes para a resolução dos seus problemas.
[...] Tabula rasa do latim, “folha em branco”. Tabula se refere a uma superfície de pedra para se escrever, Rasa, feminino de Rasus, significa apagado, i.e. “em branco”. Tabula rasa. Filos. No empirismo mais radical, estado de indeterminação completa, de vazio total, que caracteriza a mente antes de qualquer experiência. [...] Tábula rasa. S.F. Superfície plana preparada para receber uma inscrição, porém onde nada ainda se gravou. Quadro ou tela antes de receber as tintas. (FERREIRA,1996, p. 762. Apud. MARQUES, 2010, p. 20)
A tábula rasa será a proposição moderna fundamental, uma condição básica para a implementação das mudanças por vir. Noção moderna que se refere ao poder de decisão sobre o que destruir e o que manter, bem como o que introduzir “de novo” sobre um dado território. Implica, portanto, numa desafiante condição de potência criativa frente à história, reiterando a atitude demiúrgica do arquiteto urbanista.
Cidades e Laboratórios (Experiências na América Latina): Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador
Os desdobramentos dos ideais racional-funcionalistas levantados pelos arquitetos do CIAM IV são muitos e se alastram devido, sobretudo, às viagens realizadas pelos arquitetos participantes dos CIAMs, assim como através dos projetos realizados por eles. A cidade funcional, reduzida a seus quatro tipos básicos de atividade não são discutidas apenas no âmbito europeu.
Le Corbusier foi um dos arquitetos modernos cujas viagens mais claramente fizeram parte da construção de uma teoria e prática de arquitetura fortemente personalizada. Em 1929, incomodado com a falta de campo e interesse dos europeus, principalmente os franceses, sobre seus trabalhos, articula-se, através de cartas, com intelectuais, artistas e políticos sul-americanos (no Brasil, principalmente com Cendrars e Paulo Prado) para levar suas ideias e projetos para uma série de conferências realizadas em Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro. Surge como resultado desta viagem à América Latina (Brasil e Argentina) o livro Précisions sur un état présent de l'architecture et de l'urbanism (Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo)16, publicado em 1930.
As conferências da América do Sul, improvisadas em 1929 diante de uma plateia muitas vezes renovada [...] abordam o homem e seu meio. Evocam solidariamente os empreendimentos do engenheiro e do arquiteto. Elas, com toda modéstia, abriram as portas e janelas. São ilustradas com esboços feitos sob os olhos do público. Permitiram a seu autor perceber-se com clareza, ser ingênuo mais uma vez, contando-se em apresentar os problemas e lhes dar a resposta mais natural. [...] Uma pessoa não viaja para tão longe a fim de fazer conferências sobre a arquitetura e o urbanismo se ela não se sentir capacitada para contribuir com alguns dados de realidade. Estas dez conferências foram realizadas com o infatigável desejo de propiciar certezas. (CORBUSIER, 2004 [1930], p. 8)
Nesta primeira visita, Le Corbusier também elaborou um plano urbanístico para o Rio de Janeiro, que incluía um dos primeiros projetos de alojamentos para as classes populares do século XX. Foi durante essa viagem que o arquiteto tem a primeira oportunidade de voar num avião e olhar a natureza, a paisagem e as cidades sul-americanas a partir das alturas. A impactante apreensão panorâmica do território fertilizou o diálogo entre as escalas da arquitetura e do urbanismo. Dentro do avião a planície se estende à sua volta, ela cobre os quatro horizontes e, para dizer a verdade, toda essa paisagem é uma única e mesma linha reta: o horizonte. (CORBUSIER, 2004 [1930], p. 17)
Figura 4: Le Corbusier, Aircraft (1935): uma celebração do voo, uma nova perspectiva sobre o mundo. Fonte: Cronologia do Pensamento Urbanístico
A luz tonteia e cega os contemporâneos – há tumulto, incompreensão: demolição sumária de tudo o que precedeu; negação intransigente do pouco que vai surgindo – iconoclastas e iconólatras se digladiam. Mas, apesar do ambiente confuso, o novo ritmo – transfigurado – descobre na mesma natureza e nas verdades de sempre encanto previsto, desconhecido sabor, resultando daí formas novas de expressão. Mas um horizonte então surge, claro, na caminhada sem fim. (COSTA, 1936, p. 40 Apud. XAVIER, 2007, p. 17)
No plano que traçou para o Rio de Janeiro, sua intenção declarada no projeto de alojamento popular, era substituir as favelas e, com a construção dos apartamentos cem metros acima das casas dos ricos. O projeto, de proposta utópica, pretendia traçar viadutos habitáveis no Rio de Janeiro e foi, de certa forma, a maneira que Corbusier achou para ter uma tabula rasa em plena cidade construída. Os viadutos, de cima, quase que negavam a existência desta outra cidade e evidenciam apenas a natureza soberana do Rio de Janeiro como paisagem. Em nova vinda ao Brasil, em 1936, Corbusier traçou o esboço original para o Ministério da Educação e Saúde.17 Segundo Lúcio Costa,
o marco definitivo da nova arquitetura brasileira, que se haveria de revelar igualmente, apenas construído, padrão internacional e onde a doutrina e as soluções preconizadas por Le Corbusier tomaram corpo na sua feição monumental pela primeira vez, foi, sem dúvida, o edifício construído pelo ministro Gustavo Capanema para a sede do novo ministério. Baseado no risco original do próprio Le Corbusier para outro terreno, motivado pela consulta prévia, a meu pedido, tanto o projeto quanto a construção do atual edifício, desde o primeiro esboço até a definitiva conclusão, foram levados a cabo sem a mínima assistência do mestre, como espontânea contribuição nativa para a pública consagração dos princípios por que sempre se bateu. (COSTA, 1936, p. 40 Apud. XAVIER, 2007, p. 20)
Segundo Cecília dos Santos e Margareth da Silva Pereira, essas primeiras viagens de Corbusier são momentos singulares na história da arquitetura brasileira. “Cristalizando processo de ruptura, a figura do arquiteto francês emerge desses eventos fortemente solidária ao nascimento de uma expressão arquitetônica genuinamente ‘brasileira’ que, embora reconhecida de forma autônoma, é considerada profundamente tributária das suas teorias”. (SANTOS; PEREIRA, 1987, p. 10) A partir da viagem de 1929, e durante todo o período em que manteve contatos com os brasileiros, Le Corbusier alimenta o desejo de construir no país algo “grandioso, puro e verdadeiro”. (CORBUSIER, 2004 [1930].) Em 1930 ele escreve: “são vocês, do Brasil, que podem me dar esta oportunidade”.18 (CORBUSIER, 2004 [1930].)
Figura 5: Le Corbusier, Urbanisme (1925): a tábula rasa moderna. Fonte: CORBUSIER, 2009b [1925].
A primeira proposta de intervenção urbanística no Rio de Janeiro com preocupações genuinamente modernas, no entanto, pertence ao plano do urbanista francês Alfred Agache. O projeto, concluído em 1930, que ficaria conhecido como Plano Agache, pretendia organizar o crescimento do Rio, determinando áreas de expansão, prevendo a criação de redes de serviço e tratando da instalação da infraestrutura urbana. Em sua visita ao Rio, Le Corbusier, educadamente, enfatiza sua admiração por Agache, mas sua proposta para a cidade é completamente diferente daquilo que estava sendo proposto pelo urbanista.
Segundo a tradição urbanística representada por Alfred Agache, o Urbanismo é uma ciência de aplicação sobre a urb (espaço físico da cidade), como também uma filosofia de remodelação da civita (comunidade urbana). A cidade é apresentada por Agache como um organismo vivo que se desenvolve segundo sua própria lei de evolução, donde o urbanismo seria a medicina da cidade, o urbanista seria o médico e o plano, a terapia. A compreensão evolucionista do fenômeno urbano, assim como o uso da pesquisa e análise interdisciplinar antes do plano, Alfred Agache devia ao escocês Patrick Geddes que, biólogo, era estudioso da teoria da evolução de Darwin. Geddes dedicou-se a estudar a interação da vida com o meio ambiente, o que acabou o levando ao estudo das cidades. Suas concepções sobre a cidade foram inspiradas pela “ciência da vida” e moldadas pela observação empírica e intuição.
Na Bahia, as discussões sobre a cidade funcional começam a ser esboçadas com a EPUCS,19 em 1942. Porém, o espírito modernizador se fez presente pelo menos desde a década de 1930, marcado, principalmente, pela demolição da Igreja da Sé em 1933.
A Bahia requeria, de há muito, o desafogo do trecho em que se elevava, dificultando o transito, o imprestável templo abandonado. As exigências urbanas, cada dia maiores, de ar, de luz e de espaço, a necessidade de aformoseamento e higienização do local, tudo estava a determinar uma providência decisiva por parte dos poderes públicos. [...] Inútil velharia, bem como a chamou a pena luminosa de Henrique Cancio, a finalidade dessa discutida ruinaria da Sé era deixar-se abater para abrir caminho ao urbanismo, criador de higiene e beleza da cidade. (PMS, 1938, p. 113-114 Apud. BATISTA, 2014, p. 52)
Se a depreciação do valor histórico da igreja foi a estratégia, os objetivos declarados da demolição eram conferir segurança e fluidez ao tráfego dos transeuntes e bondes da Companhia Circular de Carris da Bahia e sanear o velho distrito da Sé. No bojo desses acontecimentos, organiza-se em Salvador, em 1935, a Primeira Semana de Urbanismo.20 Trata-se do terceiro congresso de urbanismo nas américas e o primeiro no Brasil. Assim como Le Corbusier fizera em seu livro Urbanismo, onde apontara que “Paris estava doente, muito doente” (CORBUSIER, 2009b [1925].), Salvador é assim retratada, também a partir de recorte de jornais. Os engenheiros participantes da Primeira Semana de Urbanismo apontavam uma Salvador errada, confusa e tortuosa como “caminhos de rato”, com sua promiscuidade no uso do solo, vendedores ambulantes e seus casebres insolúveis. Era preciso, então, civilizá-la urgentemente, transformar a cidade errada em cidade certa.
É inserido neste processo que surge o EPUCS. Desde 1939, a Prefeitura de Salvador vinha realizando contatos com escritórios do Rio de Janeiro, visando à contratação de um plano de urbanismo para a capital baiana. A vinda de Agache à Bahia, em maio de 1941, já com fama no Brasil devido ao seu plano para o Rio de Janeiro, foi amplamente divulgada nos jornais da época. Agache era tido como o urbanista que lançaria as bases da cidade futura a partir de um plano para a cidade de Salvador. Nesta viagem, pretendia juntar informações para elaboração do tão esperado plano.
Minha função, vindo à Bahia é idêntica ao do médico que é chamado a ver um doente. Antes tenho que auscultá-lo, saber do seu estado geral, o que se lhe receitou antes, a fim de poder diagnosticar. E a Bahia, ao que posso ver, é um doente que não se apercebe da sua real situação de saúde. Mas, ao primeiro contato que venho de ter, não foi das piores a impressão do que já vi. (A TARDE, 24/04/1941)
Figura 6: J. L. Sert (1942): capa e título originais do livro Can our cities survive? An ABC of urban problems, their analysis, their solution, onde foi publicada a versão norte-americana da Carta de Atenas. Fonte: Cronologia do Pensamento Urbanístico
Em julho de 1942, o engenheiro baiano Mário Leal Ferreira encaminha à prefeitura uma proposta de trabalho para elaboração de um plano urbanístico para Salvador. Por ser conhecido principalmente nas questões engenharia sanitária e sociologia, tem a sua proposta aceita. Este fato cancela o plano que seria elaborado por Agache e, neste mesmo ano, Mario Leal dá início aos trabalhos do EPUCS. Inicialmente, sob a coordenação de Mário Leal, o Escritório contava com uma equipe multidisciplinar e elaborou uma série de estudos aprofundados em diversas áreas, o levantamento aerofotogramétrico da zona urbana de Salvador e um conjunto de pesquisas históricas visando a constituir a “enciclopédia urbanística da Cidade do Salvador”. É apenas após este estudo detalhado da cidade que são elaborados planos urbanísticos.
O EPUCS, apesar de uma experiência pioneira no Brasil, por se tratar da primeira vez no país em que uma cidade é entendida como um todo deve, em muitos aspectos, às propostas formuladas na Carta de Atenas e seus conceitos de cidade funcional. As estreitas relações do grupo com as propostas do IV CIAM ficam ainda mais claras quando, em 1955, Ademar de Guimarães, membro do escritório, traduz a versão da carta de J. L. Sert. Guimarães, no entanto, intercalada a tradução da Carta com notas, em destaque, sobre a Cidade do Salvador e aos trabalhos do EPUCS.21
A opção por manter os comentários feitos sobre Salvador [...] decorre da necessidade histórica de registrar como as lideranças locais (ligadas ao EPUCS) absorviam e deglutiam, “antropofagicamente”, o pensamento moderno dos CIAM's em nosso contexto, no meado do século XX. É instigante ver que, embora o texto preferido para a tradução de GUIMARÃES seja The Town Planning Chart (1942), o título adotado em português seja o de “A Carta de Atenas”, retomando o título consagrado pela versão francesa e o mais divulgado no Brasil e no mundo a partir dos anos 50. (SAMPAIO, 2001, p. XX, destaque original).
Os estudos iniciais do EPUCS subsidiaram as propostas do plano, dentre as quais estavam a diferenciação de zonas, a definição de vias de comunicação, de áreas destinadas a parques e jardins e de zonas de habitações. Dentre as propostas traçadas pelo Escritório, as chamadas “avenidas de vale” são, certamente, o aspecto mais conhecido do plano. A ideia era propor uma articulação entre as cumeadas e os vales a partir do entendimento geomorfológico de Salvador e da ocupação histórica que privilegiara o topo dos morros, deixando os vales livres para vias de tráfego rápido. A primeira delas, a Avenida do Centenário, começou a ser implantada em 1949.22
O Modulor, a Grille e os CIAM do pós-Guerra
Na tentativa de reafirmar suas ideias e moldar o estilo de representação projetual que propunha desde 1933, Le Corbusier publica, entre 1942 e 1948, um sistema de medição conhecido por Modulor, uniformizando ainda mais os parâmetros do desenho e do urbanismo modernos. Usando as dimensões médias humanas (1,75 metro como altura padrão e, mais tarde, 1,83 metro), o modelo que o arquiteto usou para encontrar harmonia nas suas composições arquiteturais corresponderia ao homem-padrão para habitar a sua “cidade ideal”, racional-funcionalista: um homem de medidas ideais, um sistema de medidas e proporções, uma imagem de homem, sem contornos, movimentos e identidade, contrapondo-se à multiplicidade das pessoas das cidades.
Figura 7: Nigel Henderson (1953): crianças brincando nos “slums” londrinos. Fonte: Cronologia do Pensamento Urbanístico
Durante os CIAMs, Le Corbusier pretende continuar promovendo a condução das discussões para a temática do urbanismo funcionalista, através de uma padronização dos documentos e representações. Durante o CIAM VI23 (1947) – a primeira edição do Congresso do pós-guerra –, ele propôs que todos os trabalhos discutidos nos CIAMs fossem apresentados sob uma única forma, em uma “grade” – a “Grille corbusiana” – organizada a partir das funções primárias contidas na Carta de Atenas. Sob o pretexto de facilitar a comparação entre os projetos apresentados de modo padronizado, a utilização da grade reforçava a leitura das cidades pela separação das funções, produzindo e generalizando um método de análise que pretendia estar na base da própria produção de projeto. Para dar continuidade à discussão da Cidade Funcional do CIAM IV (1933), o tema do CIAM V (1937) seria “alojamento e lazer”, duas das funções primárias contidas na Carta. Uma tentativa de legitimar o conceito urbanístico desenvolvido durante o Congresso anterior, a partir de soluções universais para cada função específica.
Crianças, Jogos e Cidade
No urbanismo, a noção de tábula rasa como um posicionamento que inclui ações, projetos, tomadas de decisões, de ruptura em relação às experiências ou concepções anteriores, envolve também o desejo de abrir espaço para a criação e destruição através da ruptura no que diz respeito a uma ordem existente. Uma elite acadêmica e técnica, considerada detentora de um saber-fazer científico, naturaliza uma postura de se portar diante da cidade e, sobretudo, dos seus habitantes. Promovem, a partir de um conhecimento prévio e determinado, indicações superiores e iluminadas quanto aos melhores caminhos para a construção ou apropriação dos seus espaços sociais, muitas vezes já́ praticados.
Por outro lado, a maioria daquela população, que não possuía outra alternativa senão aceitar as imposições projetuais, acabou por criar mecanismos de defesa e superação: reverte os significados dos espaços que lhe são impostos. Incorpora e cria ordens próprias que ultrapassem as ordens simplistas e abstratas dos planejadores. O urbanismo, como meio disciplinador, possui suas brechas: os sujeitos praticantes da cidade e, dentro do próprio campo, os arquitetos urbanistas que passam a contestar essa unidade na maneira de pensar/fazer cidade.
Durante o CIAM VIII (Hoddesdon, Inglaterra), em 1951, conflitos internos, que já começavam a ser esboçados durante os primeiros Congressos do pós-guerra, tornam-se fundamentais para a quebra da hegemonia existente nas discussões e ações dos CIAMs. Sob o tema The Heart of the City,24 o coração da cidade é apontado como núcleo, uma ideia muito mais rica que a relação de centro cívico proposta pelos que ficariam conhecidos como a “velha guarda” dos CIAMs. Fala-se do coração, dos espaços públicos, da escala humana, da nova monumentalidade e dos edifícios históricos como força simbólica. Antes disso, a nova monumentalidade não representava a recuperação dessa historicidade e os monumentos modernos deveriam ser construídos sobre grandes espaços abertos, sob a ótica da tábula rasa.
Mudanças importantes são registradas em 1951: a chegada de novos países da África e Américas fez com que não houvesse mais um único tema em debate e novas questões eram formuladas ainda durante os Congressos. É durante o CIAM VIII que o arquiteto italiano Ernesto Nathan Rogers formula, pela primeira vez, a questão das “preexistências ambientais”, uma metáfora para “contexto”, onde defende que a arquitetura não estaria isolada do seu redor e, sobretudo, do que a precedeu. Os discursos anteriores perdem seu dogmatismo e tornam-se cada vez mais absorventes e esponjosos. As novas ideias, mais complexas e sensíveis, apresentam-se irrecusáveis, impossíveis de serem ignoradas e utilizadas de forma clara nos projetos propostos.
Contrapondo-se aos debates levantados até então pelos CIAMs, emerge, dentro dos próprios Congressos, o grupo TEAM X25 (1953-1967). Este grupo dialoga questões da arquitetura e do urbanismo com outros “lugares” de pensamento, como a Internationale Situationniste (Internacional Situacionista ou IS),26 o grupo Cobra27 (Copenhague-Bruxelas-Amsterdã, 1948-1951) e o The Independet Group28 –grupos de artistas, intelectuais e arquitetos que atuaram entre 1950-1960 na Europa a partir de críticas sociais, culturais e políticas, posicionando-se contra a cultura espetacular e a favor novas propostas de apropriação da cidade, por meio da participação ativa dos seus habitantes. A proposta do TEAM X baseia-se em uma base metodológica que sobrepõe pensamentos da antropologia e da sociologia, com os elementos de análise e projeto de arquitetura e urbanismo, a partir de sínteses dos padrões de contatos urbanos, das relações/afetações que acontecem naturalmente na cidade moderna. A crítica do grupo perpassa produções ligadas ao campo da arte e da cultura, e uma das referências para os debates do TEAM X, a Internacional Situacionista “coloca-se contra as pretensões modernas racionalistas de arquitetos e urbanistas, contra o urbanismo (chamado por eles de “ideologia espetacular”29) e criticam diretamente os maiores símbolos do modernismo: a Carta de Atenas e Le Corbusier”. (JACQUES, 2003, p. 14)
Durante o CIAM IX30 (Habitat), de 1953, ao mesmo tempo em que Le Corbusier apresenta exóticas experiências de habitações padronizadas na cidade de Chandigarh31 (Índia), George Candilis mostra suas análises de habitações tradicionais no Marrocos (África) e a complexidade de transpor essas análises em edifícios de altura. É, sobretudo, no trabalho apresentado pelo casal britânico Alison e Peter Smithson – o projeto Urban Re-identification – que a crítica, ou melhor, o rompimento decisivo com a geração mais antiga do CIAM (FRAMPTON, 2008 [1997] p. 329) se dá de forma mais direta. Nesta representação do que seria a “Grille corbusiana”, inexistem fotos aéreas das cidades. Pela primeira vez na história dos CIAMs são retratadas pessoas reais (crianças brincando na rua), propondo o questionamento das relações e dos conceitos de hierarquias e lugares. As quatro categorias funcionais são substituídas por escalas de associação: a casa, a rua, as relações, o bairro e a cidade. A rua, aqui, seria como uma extensão da casa, fundamental para a formação da identidade e da vida comunitária do habitante. Ao centro, nota-se uma figura que pode ser entendida como um Modulor “explodido”. Elementos que representavam uma crítica ao caráter da matriz racionalista precedente, considerado demasiado idealizante para interagir com as particularidades da vida cotidiana.
Figura 8: Le Corbusier (1925): mão de Le Corbusier sobre o Plan Voisine para Paris. Fonte: FRAMPTON, 2008 [1997]
As fotografias do britânico Nigel Henderson (membro do Independent Group), que fazem parte da Grille Urban Reidentification dos Smithson representam um mapeamento da experiência urbana que rompe barreiras entre a casa e a rua, ou entre o bairro e a cidade. São as crianças brincando nos slums (favelas) de Londres que encarnam o princípio orientador da interação social e que sustentam o conceito de “cluster city”32 dos Smithson. Uma declaração visual influente de uma nova abordagem para o urbanismo, que rompe com o pensamento ortodoxo modernista – do racional, da cidade zoneada. Em seu lugar, fica o questionamento para uma arquitetura de desdobramento das relações espaciais, observadas naquelas brincadeiras de rua. A imagem de cidade produzia pelo TEAM X representa um importante trabalho por sua carga crítica e inspiração utópica. Gestos urbanos33 que, sobrepostos ao desenho da Grille dos CIAMs, rompe com as funções-tipo previstas na Carta de Atenas.
Alison e Peter Smithson propõem, a partir do projeto Urban Re-identification, mesclando as fotografias, a análises e projetos urbanos sobre a “Grille corbusiana” , um questionamento d o legado moderno funcionalista dos CIAMs. Coloca, acima de tudo, a crítica ao caráter abstrato do movimento moderno racional funcionalista, declarando a necessidade de uma nova abordagem metodológica para a arquitetura e o urbanismo. A produção do TEAM X, e todo seu repertório de provocações lançadas ao grupo de arquitetos e urbanistas conservadores que difundiram o ideário moderno, significa uma declaração influente de uma nova abordagem para a cidade e o urbanismo, rompendo paradigmas anteriores, de racionalização das funções da cidade.
O fim dos CIAMs, de alguma forma, é anunciado por estas fotografias. Elas não provocam o colapso em si, mas apontam para o aspecto que o CIAM tinha perdido de vista: a ambição do modernismo de assistir à totalidade da vida cotidiana. Peter Smithson descreve as fotografias de Nigel Henderson: “a ‘vida nas ruas’ mostrada por estas fotos é sobrevivente de uma cultura anterior – uma cultura substancial. Mas nós ainda não descobrimos uma forma equivalente para a forma da rua no presente momento. Todos nós sabemos que a rua tem sido invadida pelo carro.” A imagem de cidade proposta pelo TEAM X, contrariando as outras cidades até então mostradas nos CIAMs, apresenta o cotidiano, o olhar horizontal para a cidade, como potência para uma apreensão sensível das cidades.
A nova geração dos CIAMs, liderada pelo holandês Jacob Bakema e composta pelos britânicos Alison e Peter Smithson, pelos franceses Georges Candilis, Alexis Josic e Sadrach Woods, pelo italiano Giancarlo De Carlo, pelo holandês Aldo Van Eyck e outros, declara que “a ruazinha estreita da favela funciona muito bem exatamente onde fracassa com frequência o redesenvolvimento espaçoso.” (FRAMPTON, 2008 [1997], p. 330) O impulso crítico em encontrar uma relação mais precisa entre a forma física e a necessidade sociopsicológica torna-se tema do CIAM X,34 realizado em Dubrovnick, em 1956 – o último encontro dos CIAMs, organizado pelo grupo de arquitetos do Team X. Este Congresso é marcado por uma clara violência nas discussões. Embates ideológicos e pessoais entre gerações bem distintas constata a fragmentação e descentralização dos grupos.
Entre o CIAM IX e o CIAM X, o grupo TEAM X publica a Declaração do Habitat e o Manifesto de Doorn. Os membros do Team X esclarecem seus princípios sobre o que significa a construção do ambiente humano, desde a casa até́ a cidade. Para exemplificar esse entendimento, os jovens arquitetos dos CIAMs introduzem uma adaptação do diagrama da organização territorial do The Valley Section criado por Patrick Geddes. Nesse diagrama, em um corte esquemático, Geddes apresenta diferentes agrupamentos humanos, em diferentes estágios de produção e de urbanização, relacionado com seu meio ambiente.
Em seu livro Cities in evolution: an introduction to the town planning movement and to the study of civics (1915),35 Geddes escreve que a evolução das cidades deveria ser estudada não simplesmente como escrutínio de suas origens, “mas como um estudo dentro da evolução social contemporânea, uma pesquisa das tendências em evolução”. (GEDDES, 1915) Expõe a ideia de cidade como um instrumento de evolução e, a partir daí, começa a formular a sua filosofia quanto à questão do ordenamento do território, propondo que o desenvolvimento da cidade é apenas parte de uma rede mais ampla. O planejamento da cidade, portanto, não seria apenas a relação entre as ruas e espaços públicos, mas também entre a cidade e sua paisagem circundante. Sua visão de cidade está mais próxima de uma leitura orgânica do elemento urbano, a ser tratado através de um “diagnóstico”, a visão orgânica rechaçada pelo CIAM. É deste livro que surge seu mantra “survey before planning”. Outra importante contribuição de Geddes, que ilustra a separação da visão urbanística tradicional daquela do planejamento urbano, seria o seu entendimento de cidade como um “contexto global”. A cidade deixaria de ser “coisa de arquiteto”, para integrar uma série de aspectos: sociológicos, geográficos, econômicos, históricos e demográficos. Institucionalizando, assim, o enfoque interdisciplinar e, de maneira embrionária, a participação ampliada no plano.
O termo Habitat foi proposto inicialmente por Le Corbusier no CIAM VII, cujo significado, no primeiro momento, era difuso e podia ser entendido como uma ideia análoga à de “habitação”. Para os jovens arquitetos que criticam a visão funcionalista dos CIAM, o termo é entendido como um conceito novo que, partindo da comunidade, pretende entender o “ambiente” no qual ela se desenvolve. Assim, o documento serve aos interesses de vários grupos que de fato são antagônicos, o que o transformava num “Cavalo de Tróia” (RAMOS, 2013, p. 161) dentro dos próprios Congressos.
Em 1961, ao escrever ao editor Karl Krämer, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe seu lugar no devido tempo”. Porém, ao enviar cópia da carta aos outros colegas, rabisca nela uma caricatura de um jovem brandindo a bandeira da “verdade” e pisoteando as “bobagens” que teriam resultado dos “trinta anos de trabalho” da velha geração de “chatos”. E comenta: “Montam sobre os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado.” (COHEN, 2013) A extinção oficial dos Congressos e a sucessão do Team X são confirmadas no Congresso de Otterlo,36 realizado em 1959, na Holanda. Em carta dirigida ao CIAM de Dubrovnick, Le Corbusier afirma:
São aqueles que hoje tem quarenta anos de idade, nascidos por volta de 1916 durante guerras e revoluções, e os que nessa época nem haviam nascido, e estão hoje com vinte e cinco anos, os que nasceram por volta de 1930, durante os preparativos para uma nova guerra e em meio a uma profunda crise econômica, social e política, e que, portanto, se situam no âmago do período presente, são esses os únicos indivíduos capazes de sentir, pessoal e profundamente, os problemas concretos, os objetivos a ser seguidos e os meios para alcançá-los, e a patética urgência da situação atual. São eles os que sabem. Seus antecessores foram excluídos, ficaram de fora, não estão mais sujeitos ao impacto imediato da situação. (LE CORBUSIER, 1956, Apud. FRAMPTON, 2008 [1997], p. 330)
O casal Smithson não é o único a fazer a crítica ao pensamento moderno a partir do uso da cidade pelas crianças. Três anos após a exposição da sua Grille, o holandês Aldo van Eyck começa a aprofundar a ideia do brincar enquanto ato criativo, capaz de invocar a atitude espontânea, improvisada e curiosa da criança: uma forma de sociabilização fundamental para a vida urbana. “O funcionalismo matou a criatividade”, declarou em um artigo publicado na revista holandesa Forum.37 Em 1963, o Team X ultrapassa o estágio de fértil intercâmbio e colaboração e, a partir de então, o grupo só continua a existir como movimento nominalmente, uma vez que já realizara aquilo que se pretendia alcançar por uma crítica criativa dos CIAMs. (FRAMPTON, 2008, p. 336)
Aldo van Eyck realiza ainda estudos etnológicos, principalmente nos Dogons e Pueblos, sempre interessado na chamada arquitetura vernácula ou popular. Inspirado nestes estudos, desenvolve uma ideia de claridade labiríntica em seus escritos e projetos. Em 1947, e nas décadas que se seguiram, projeta mais de setecentos playgrounds para a cidade de Amsterdam. Espaços dotados de imaginação, desenhados conscientemente de forma mínima para estimular a imaginação de seus usuários. O objetivo é que pudessem apropriar-se do espaço, deixando as interpretações em aberto. A escolha por terrenos baldios e lotes vagos para a construção dos playgrounds foi uma opção tática, uma vez que o Serviço de Preparação de Obras do Departamento de Desenvolvimento Urbano, em colaboração com as associações de moradores locais, estipularam que cada bairro tivesse o seu próprio playground.
Outro arquiteto importante na história do Team X, cujas inquietações sobre a responsabilidade social do arquiteto se dá através de processos participativos na arquitetura e no urbanismo, é o italiano Giancarlo de Carlo. Em 1959, durante o Congresso de Otterlo, ele se junta ao grupo Team X e sua contribuição para o discurso do grupo iria gradualmente ganhar espaços. As questões elaboradas por de Carlo, autor de um dos primeiros livros sobre Le Corbusier (1945), favorecem uma leitura do contexto histórico e territorial das cidades, bem como as questões sociais, como a participação e a reutilização de locais e edifícios históricos. Ele é um dos pioneiros na reflexão sobre o que hoje se conhece como “arquitetura participativa”,38 no desenvolvimento de procedimentos de trabalho que incorporassem a participação dos usuários no processo de elaboração de projetos. Seus planos estabelecem relações com o padrão cultural popular através de uma linguagem que dialoga com a expressão arquitetônica e o padrão cultural locais, atravessada por referências da tradição italiana. Contando com a participação de antropólogos, sociólogos e outros profissionais, o acesso à arquitetura poderia ser popularizado, utilizando métodos de trabalho interdisciplinares e aprimorando a apreensão da situação local. Ao estabelecer uma relação da obra com a realidade social e política enfrentada e a inserção da comunidade como agente no processo, de Carlo firma sua opção profissional de realizar arquitetura entendida como processo político.
Esse período da história da arquitetura e do urbanismo é marcado por uma intensa revisão de valores. A hegemonia do movimento moderno abala-se justamente com a crítica à ideia de modelo funcionalista. Entretanto, enquanto grande parte dos arquitetos dessa nova geração aguarda a chegada de uma nova vanguarda de inovação tecnológica, forte o suficiente para substituir a anterior, o Team X posiciona-se na fronteira da crítica e autorreflexão, que se desdobra em diferentes posturas. Coletivamente, o grupo tensiona a responsabilidade social do arquiteto frente aos problemas das grandes cidades, mas as soluções dadas à questão da ordem social eram procuradas no âmbito dos processos de trabalho de cada membro. Assim, para De Carlo a questão social deve ser resolvida através da participação da comunidade nos processos de projeto; para os Smithson, é um compromisso ético com a criação de elementos de identidade entre a arquitetura e a comunidade e; para Aldo van Eyck, é alcançada através da apropriação dos elementos arquitetônicos por parte dos usuários, em um diálogo entre a obra construída, e a interação das pessoas.
Se na visão moderna da velha guarda a cidade é vista como um objeto construído segundo regras padronizadas, justificadas exclusivamente pelos critérios da racionalidade e da otimização, pelos novos critérios ela deve ser produzida “pela valorização da ótica do usuário, pela consideração dos aspectos culturais envolvidos em arquitetura, pela leitura da cidade em termo dos diferentes níveis de associação humana, pelo retorno da valorização da rua como espaço de convivência”. (BARONE, 2002, p. 188) A queda da aspiração universalista faz surgir a diversidade que o Team X privilegiou e procura preservar na sua constituição enquanto grupo.
Notas
1 Nesta pesquisa, para dar início aos debates acerca das “nuvens” ou “nebulosas do pensamento”, foram escolhidos Pontos de Inflexão na história do pensamento urbanístico moderno, que se relacionam e debatem com o maior número de ideias, sejam elas anteriores, posteriores, críticas ou armadoras, o que facilitaria a visualização e a compreensão do pensamento urbano e sua evolução como um processo “nebuloso” e multifacetado, ao invés de linear e evolutivo.
2 Num primeiro momento da pesquisa, sua metodologia priorizava o preenchimento cronológico dos dados, onde cada membro era responsável por um ano específico, buscando obter o máximo de documentos e informações desse período. Visando a potencializar e tornar mais abrangente as possíveis articulações entre as produções, posteriormente, o trabalho passou a ser organizado por décadas, a partir das conexões existentes naquele recorte temporal. Em seguida, passou-se a trabalhar a partir de recortes temáticos, que favoreciam o entendimento e a demonstração da circulação de ideias. Estes temas se transformaram em “marcadores” temáticos (que perpassavam o período estudado) no site da pesquisa. Após uma série de debates em diferentes seminários, começou-se a avaliar o trabalho feito a partir dos marcadores e percebeu-se que, ao trabalhar com recortes temáticos, limitava-se a circulação de ideias a um só tema. Percebeu-se, assim, o enorme risco de não se estar compreendendo, historicamente, (mas somente a partir do tempo presente) os próprios termos usados como marcadores, que mudam de compreensão ao longo dos diferentes períodos históricos.
3 Para aprofundar o conhecimento a respeito de um determinado dado, o usuário deste site pode acessar os verbetes, que são elencados a partir dos debates históricos e representam diferentes acontecimentos do campo do urbanismo, sejam publicações, eventos, projetos ou fatos relevantes. Cada verbete é dividido em diferentes páginas secundárias (abas): apresentação, documentos, textos críticos, links, debates, biografias e bibliografias. Por ocasião, um determinado acontecimento, dentro do seu debate histórico pode não configurar em si uma nuvem de pensamentos ou um verbete, entretanto, podem provocar relações importantes para a complexificação da pesquisa e evidenciar outras possibilidades de entendimento da história do urbanismo. Desta forma, os acontecimentos marginais nesta pesquisa tanto podem configurar nuvens de pensamento, pontos de inflexão, verbetes ou mesmo conteúdos inseridos dentro destes.
4 A partir da colaboração de duas equipes de pesquisa, o Laboratório de Estudos Urbanos (PROURB/FAU-UFRJ), coordenado por Margareth da Silva Pereira, e o Laboratório Urbano (PPG AU/FAUFBA), coordenado por Paola Berenstein Jacques, o projeto de pesquisa Cronologia do Pensamento Urbanístico atua, desde 2002, mapeando e entendendo as redes complexas que constroem o pensamento urbanístico, reunindo dados referentes a projetos, publicações, eventos e fatos relevantes no Brasil e no mundo. Recentemente, duas outras equipes tornaram-se parceiras da pesquisa: o Cosmópolis (NPGAU/UFMG), coordenado por Rita de Cássia Lucena Velloso, e o Laboratório de Estudos da Urbe (PPG-FAU-UnB), coordenado por Ricardo Trevisan.
5 “Essa amplitude e diversidade dos estudos históricos na área da arquitetura e do urbanismo nas últimas décadas é de tal ordem que poderíamos imaginar várias nuvens de pesquisadores, professores, instituições com orientações teóricas específicas, formando configurações gasosas e moventes. Pareceria que estamos diante de uma série de nebulosas, entendendo-se o termo nebulosas menos em seu sentido corrente de algo pouco claro (embora não deixe de sê-lo) do que no sentido arcaico de nebulae – nuvens ou conjunto de nuvens que se articulam ou entrechocam.” (PEREIRA, 2014, p. 202, destaques originais)
6 Em 1859, Cerdà projetou a expansão de Barcelona como uma cidade quadriculada, com cerca de vinte e dois quarteirões de profundidade, orlada pelo mar e cortada por duas avenidas diagonais. (FRAMPTON, 1997, p. 19)
7 Este ideal positivista foi experimentado em diferentes projetos de cidade-modelo desde o processo de industrialização das cidades, como, por exemplo, a Cidade-Jardim Linear espanhola, de Arturo Soria y Mata (início da década de 1880); a Cidade-Jardim Concêntrica inglesa, de Ebenezer Howard (1889); e a Cidade Industrial de Tony Garnier (1899-1918).
8 Ver verbete Projeto da Ville Radieuse. Autor: Le Corbusier e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1580).
9 1928, Suíça – CIAM I (La Sarraz), fundação dos CIAMs; 1929, Alemanha – CIAM II (Frankfurt-am-Main), Die Wohnung fur das Existenzminimum (Habitação para o mínimo nível de existência); 1930, Bélgica – CIAM III (Bruxelas) Rationelle Bebauungsweisen (Uso racional do lote); 1933, Grécia – CIAM IV (Atenas) The Functional City (A Cidade Funcional); 1937, França – CIAM V (Paris), Logis et loisirs (Habitação e lazer; 1947, Reino Unido – VI CIAM (Bridewater), reafirmação dos objetivos dos CIAMs; 1949, Itália – CIAM VII (Bérgamo), Concerning Architectural Culture (Sobre a cultura arquitetônica); 1951, Reino Unido – VIII CIAM (Hoddesdon), The heart of the city (O coração da cidade); 1953, França – IX CIAM (Aix-en-Provence), Habitat; 1956, Croácia – X CIAM (Dubrovnik), The Charter of Habitat (Carta do Habitat); 1959, Holanda – Congresso de Otterlo, fim dos CIAMs.
10 Ver verbete CIAM I (La Sarraz) – Fundação dos CIAM e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1464).
11 Ver documento Declaração de La Sarraz – Congrès Internationaux d’Architecture Moderne – CIAM – 1928, disponível em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/mais_documento.php?idVerbete=1464&idDocumento=118).
12 O CIAM IV seria realizado em Moscou, cenário de um grande laboratório onde o problema da construção das cidades socialistas já aparecia desde 1930, com Sotsgorod, de Nicolai Miliutini. As mudanças políticas na URSS, que culminaram com a ascensão de Stalin, e as reações à nova postura face ao movimento moderno, explicaram a mudança de planos. Em 1931, através do concurso para o Palácio dos Sovietes, Stalin veio propiciar, na URSS, a volta da arquitetura como imagem do poder e da autoridade, rejeitando os projetos modernos (inclusive a proposta de Le Corbusier). O resultado final do concurso e as reações do CIRPAC (Comité International pour la Résolution des Problèmes de l’Architecture Contemporaine) mostraram uma fissura muito além do que se imaginava, registrandos-se ali a desistência na escolha de Moscou como sede do CIAM IV, cuja ausência dos alemães e soviéticos deixou o Congresso inteiramente sob o comando de Le Corbusier e José Luis Sert.
13 O CIRPAC, reunido de 29 a 31 de março de 1932 em Barcelona, havia feito um programa de análise de 33 cidades em 18 países (Amsterdam, Atenas, Bruxelas, Baltimore, Bandoeng, Budapeste, Berlim, Barcelona, Charleroi, Colônia, Como, Da Lat, Detroit, Dessau, Francfurt, Genebra, Gênova, La Haya, Los Angeles, Litoria, Londres, Madrid, Oslo, Paris, Praga, Roma, Rotterdam, Estocolmo, Utrecht, Verona, Varsóvia, Zagreb, Zurich).
14 Não existe um documento original, mas sim versões da Carta de Atenas. Em 1933, foi publicado pelo GATEPAC (Grupo de Artistas y Técnicos Españoles Para la Arquitectura Contemporánea) as Conclusões do CIAM IV, traduzidas na revista AC-GATEPAC n. 12 (Barcelona, 1933). A famosa Carta em francês, cuja autoria se deve a Le Corbusier, que não é sequer assinada pelo arquiteto, foi uma publicação atribuída ao grupo francês dos CIAM, publicada nove anos após o CIAM IV. Como visto, uma dessas versões – Can our cities survive? (1942) – foi publicada por J. L. SERT, membro fundador do GATCPAC e vice-presidente da primeira comissão permanente dos CIAM, que foi exilado nos Estados Unidos. São encontradas, ainda, diversas traduções destes documento. Dentre elas, a publicada em 1955 por Admar Guimarães (A Carta de Atenas: urbanismo dos C.I.A.M.), membro do EPUCS e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, traduzida da versão de Sert.
15 A ideia de “diagnóstico” foi proposta por Patrick Geddes, traduzido erroneamente da expressão “survey”, mostrando pouco da sua complexa visão do termo, com o sentido de tratamento e cura das “doenças da cidade”. Geddes foi “um biólogo e botânico anárquico do final do século XIX que revolucionou, no início do século XX, a maneira de apreender, olhar, pensar a cidade ao inventar metodologias transdisciplinares, dentre as quais, algumas hoje se tornaram rotinas, por vezes tidas como dadas, para todo plano urbano: o diagnóstico (survey) antes do plano, por exemplo.” (BIASE, 2012, p. 195, destaque original) “Geddes introduziu um tipo de planejamento fundado sobre o tempo, a paciência, o cuidado amoroso do detalhe, a interrelação atenta entre passado e futuro, a insistência sobre a escala humana e sobre as aspirações humanas […] e finalmente a disponibilidade de deixar uma parte essencial do processo para aqueles que estão intimamente implicados: os cidadãos.” (MUMFORD, 1950, apud FERRARO, 1998, p. 269, apud BIASE, 2012, p. 195)
16 Ver verbete Le Corbusier publica Précisions e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1595).
17 Ver verbete Projeto para o Ministério da Educação e Saúde Pública – Lúcio Costa e equipe e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=594).
18 Em 1926, Le Corbusier recebeu uma carta de Blaise Cendrars, poeta e intelectual suíço, falando sobre a intensão do Governo Brasileiro na construção da nova capital federal do país: Planaltina (atualmente Brasília). A partir de então, o arquiteto franco-suíço passou a trocar informações com intelectuais modernistas brasileiros, principalmente, Paulo Prado e Blaise Cendrars. Ver as referidas cartas em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1595).
19 Ver verbete Criação do Escritório do Plano de Urbanismo de Salvador e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1581).
20 Ver verbete I Semana de Urbanismo, em Salvador e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=582).
21 Ver verbete Admar Guimarães publica “A Carta de Atenas (urbanismo dos C.I.A.M.)” e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1554).
22 Com a morte súbita de Mario Leal Ferreira em 1947, o arquiteto Diógenes Rebouças assume a liderança do EPUCS. No período em que esteve sob sua direção, entre 1947 e 1950, o Escritório perde um pouco o cunho urbanístico e se constituiu, de certa forma, em um escritório de arquitetura responsável pela elaboração direta dos principais projetos demandados pela Prefeitura de Salvador e pelo Governo do Estado da Bahia.
23 Ver verbete 1947, Reino Unido – VI CIAM (Bridewater) – Reafirmação dos objetivos do CIAM e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1548).
24 O tema do CIAM VIII, Coração da Cidade, foi definido após o CIAM VII (1949), realizado em Bérgamo, cidade histórica italiana devastada pela Guerra. Nesse caso, entretanto, os responsáveis pela escolha do tema do Congresso comparam o centro da cidade ao coração dos seres vivos. No CIAM VIII, José Sert reconhecia que: “[…] muitas cidades do passado possuem formas e padrões definidos e eram construídas em volta de um núcleo que geralmente era um fator determinante para essas formas. Eram as cidades que faziam os núcleos, mas em retorno, eles faziam da cidade uma cidade e não um agregado de indivíduos”. (SERT, 1952) Ver verbete 1955 - Publicação El Corazon de La Ciudad - VIII CIAM e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1550).
25 Os mais ativos membros do grupo do TEAM X foram Aldo Van Eyck, Alison e Peter Smithson, Ernesto Nathan Rogers, George Candilis, Giancarlo De Carlo, Jaap Bakema e Shadrach Woods.
26 Grupo formado por reminiscências da Internacional Letrista, na França na década de 1960: Guy Debord, Constant, Raoul Vaneigem, Asger Jorn, Gilles Ivain/Ivan Chtcheglov, Attila Kotányi, Alexander Trocchi, Ralph Rumney, Michèle Berstein foram alguns que fizeram parte do grupo, que tinha maioria formada por escritores com inspirações dadaístas e surrealistas. (CAÚLA, 2002, p. 42) Ver verbete Publicado o primeiro número da revista “Internationale Situationniste” e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=83).
27 Ver verbete Exposição do Grupo Cobra em Liège e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1370).
28 Ver verbete Formado Independent Group, ligado ao ICA, Londres e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1377).
29 Principal relação entre as nebulosas do Ponto de Inflexão CIAM IX (Aix-en-Provence) Habitat – Formação do TEAM X (1953) e do Ponto de Inflexão Plano Estratégico de Barcelona (1992).
30 Ver verbete IX CIAM (Aix-en-Provence) – Habitat e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=205).
31 Ver verbete Inauguração de Chandigarh e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1527).
32 Ver verbete Apresentado conceito Cluster City. Autores: Alison e Peter Smithson e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1373).
33 “Ações que interrompem a cotidianidade – inscrevendo a co-presença em contextos que a renegam – implicam em sincronização de gestos e na representação de papeis que não são esperados e nem programados.” (RIBEIRO, 2013, p. 63) “No cotidiano e no lugar, gestos-fio costuram saberes à co-presença, estimulando a superação do prestígio ainda mantido pelas leituras mecanicistas e funcionalistas da vida urbana.” (RIBEIRO, 2005, p. 416)
34 Ver verbete X CIAM (Dubrovnik) – Carta do Habitat e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=2).
35 Ver vebete Patrick Geddes publica “Cities in Evolution. An introduction to the Town-Planning movement” e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=705).
36 Ver verbete Congresso de Otterlo – Fim dos CIAM e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1560).
37 A revista Forum foi fundada em 1946 e, entre 1959 e 1963, Bakema e Van Eyck nela colaboram. A revista acompanhava as discussões dos CIAM a partir das atividades das delegações holandesas dos CIAMs. Ver verbete Van Eyck e H. Hertzberger assumem a diretoria da Revista Forum e suas relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1589).
38 Principal relação entre as nebulosas do Ponto de Inflexão CIAM IX (Aix-en-Provence) Habitat – Formação do TEAM X (1953) e do Ponto de Inflexão Reurbanizaçao da Favela de Brás de Pina (1969).
Referências
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Revisão do texto: Osnildo Adão Wan-Dall Junior