Jorge Machado Moreira
Brasileiro de família gaúcha, Jorge Machado Moreira nasceu em Paris em 1904. Primeiramente, cursou arquitetura em Montevidéu, mas concluiu o curso no Rio de Janeiro, na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1932. O período de sua graduação coincidiu com um momento decisivo na arquitetura brasileira: o embate entre o historicismo arquitetônico, ensinado até então nas escolas de arquitetura no sistema beaux arts, e os princípios renovadores do modernismo, causa pela qual Jorge Machado Moreira se mostrou profundamente comprometido.
Como vice-presidente do diretório acadêmico da ENBA, colaborou na implantação do projeto de renovação do ensino no período em que Lúcio Costa foi diretor, nos anos de 1930 e 1931.
Recém-formado, Jorge Machado Moreira assumiu o cargo de direção de arquitetura da construtora Baerlein. Depois de algum tempo, passou a submeter o seu trabalho na contrutora à sua liberdade de projetar. A partir daí, abandonou o estilo neocolonial de suas primeiras obras, exigido pela construtora, para projetar edifícios que estão entre os pioneiros na difusão do movimento moderno no Rio de Janeiro.
Em paralelo, participou de alguns concursos públicos. Nenhum desses projetos lhe garantiu qualquer prêmio, até mesmo devido à resistência em se aceitar projetos modernos. Entretanto, esse envolvimento com a causa moderna foi o suficiente para que Lúcio Costa o convidasse para o projeto do Ministério da Educação e Saúde Pública, em 1936, juntamente com Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernani Vascocelos e Oscar Niemeyer. De toda a formação recebida até então, uma das influências que lhe foi de maior importância foi a vinda Le Corbusier ao Brasil, na condição de consultor do novo Ministério. Além disso, Le Corbusier também veio para colaborar na elaboração do projeto da sede do campus da Universidade do Brasil e para ministrar uma série de conferências. Jorge Machado Moreira, inclusive, fazia parte da equipe da Universidade do Brasil.
Nenhum dos projetos como previam Le Corbusier foram executados, mas, ainda em 1936, Lúcio Costa orientou a elaboração de novos projetos, sendo que apenas o do Ministério foi realizado.
Em 1937, Jorge Machado Moreira sai da construtora Baerlin e aposta na aventura profissional autônoma.
Entre meados de 1930 e fins dos anos 40, projetou obras públicas e privadas variadas, para os mais diversos programas. Com isso, pôde dar vazão ao ideal moderno de projetar todo tipo de edifício, participando do redesenho da cidade por meio de intervenções pontuais.
A participação nos projetos da Cidade Universitária e do Ministério da Educação e Saúde foi transformadora para os arquitetos que participaram desses processos, cada um à sua maneira. O desenvolvimento das obras individuais desses arquitetos evidenciou diferenças no modo de interpretar o sistema arquitetônico de Le Corbusier. Se Lúcio Costa logo iniciou a tentativa de conciliar passado e presente, seguindo a pista indicada pelo mestre, e Oscar Niemeyer começou a explorar as potencialidades formais da linguagem corbusiana, Jorge Machado Moreira permaneceu fiel ao sentido estrito do racionalismo, pouco flertando com a evocação do passado ou com a liberdade formal.
Em 1949, Jorge Machado Moreira foi convidado para ser o arquiteto-chefe no planejamento da Cidade Universitária. Ocupando o cargo até 1962, chefiou uma grande equipe que elaborou o plano geral do campus, o projeto de doze edifícios e o detalhamento dos cinco que foram construídos.
Apesar de ter permanecido inconclusa, a Cidade Universitária é a sua maior realização. Dentre outros projetos de destaque, podemos citar o edifício residencial Antônio Ceppas (1952), no Rio.
Jorge Machado Moreira Foi ainda vice-presidente do Conselho Superior do IAB, entre 1961 e 1965, tendo colaborado ativamente na campanha pela regulamentação da profissão. Veio a falecer no Rio de Janeiro em 1992.
Quando presidente do Júri de Premiação da III Bienal de São Paulo, 1955, Jorge Machado Moreira deu a sua declaração com respeito ao II Concurso Internacional para Escolas de Arquitetura:
"Ninguém se torna gênio por determinação expressa de um programa. E quando não se tem dom criador é mais acertado procurar inspiração nas obras já feitas e nas boas idéias alheias, do que insistir em esquecer que a arquitetura é uma arte utilitária, indissoluvelmente ligada a problemas econômicos e sociais. Não pode, por conseqüência, ser encarada simplesmente como um problema de ordem plástica capaz de ser resolvido, satisfatoriamente, desde que atendido o pendor estético de cada um. A evolução social e as conquistas da técnica e da ciência não nos permitem prever as tendências definitivas da arquitetura contemporânea, mas é indiscutível que as formas falsas e as soluções sem razão plausível serão sempre passageiras".
Com relação à sua obra, Roberto Conduru escreveu: "Jorge Machado Moreira permaneceu um purista convicto, permitindo-se poucas alusões à cultura pretérita local, como no edifício Antônio Ceppas e no projeto do Sanatório de Tuberculose de Belo Horizonte, seguindo respectivamente as indicações e Lúcio Costa contidas no Parque Guinle e no Park Hotel, e explorando em detalhes ou em partes as formas curvilíneas e angulares, como no projeto da residência do haras Guanabara, que retoma o projeto de Oscar Niemeyer para a residência Tremaine.
Dessa forma, Jorge Moreira notabilizou-se pelo amor aos detalhes e à procura de uma adaptação "clássica" do modernismo corbusiano inicial, explicitando a rejeição de diálogos com o passado ou a pesquisa de novas formas.
Fonte(s) Catálogo de Obras de Jorge Machado Moreira, 1999. Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro; CAVALCANTI, Lauro: Quando o Brasil era Moderno