1930
França
PublicaçãoIdiomas disponíveis
Português
Colaborador
Leonardo Vieira
[ESQUEMA 6] - "Um novo dimensionamento da casa" (Le Corbusier, estudos sobre os navios, o Palácio das Nações e os Arranha-céus americanos)
[ESQUEMA 7] - "Um novo dimensionamento da casa" (Le Corbusier, estudos sobre os arranha-céus americanos)
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Publicado em 1930, Précisions sur un état présent de l'architecture et de l'urbanisme [Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo] é o resultado das viagens de Le Corbusier pela América Latina a partir de 1929.
Incomodado com a falta de campo e interesse dos europeus, principalmente os franceses, sobre seus trabalhos, Le Corbusier articulou-se, através de cartas, com intelectuais, artistas e políticos sul-americanos (no Brasil, principalmente com Cendrars e Paulo Prado) para levar suas idéias e projetos para uma série de conferências realizadas em Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro.
Le Corbusier, 1930
"A terra é redonda e contígua O atomismo perturba as estratégias. Há vinte anos os aviões transportam (verdadeiramente) os homens. Com suas pastas de couro debaixo do braço eles entram no avião. Dentro de dez, vinte horas, estarão do outro lado do mundo." p. 8
"Hoje, porém, coloca-se um problema para nós: a terra é mal ocupada pelos homens. Ela é até mesmo despovoada em grande parte. Nela surgiram monstros, são as cidades tentaculares, cânceres de nossos ajuntamentos. Quem cuida delas, quem se preocupa com elas, quem consegue perceber com clareza o que está acontecendo?" p. 8
"As conferências da América do Sul, improvisadas em 1929 diante de uma platéia muitas vezes renovada (...) abordam o homem e seu meio. Evocam solidariamente os empreendimentos do engenheiro e do arquiteto. Elas, com toda modéstia, abriram as portas e janelas. São ilustradas com esboços feitos sob os olhos do público. Permitiram a seu autor perceber-se com clareza, ser ingênuo mais uma vez, contando-se em apresentar os problemas e lhes das a resposta mais natural." p. 8-9
"Uma pessoa não viaja para tão longe a fim de fazer conferências sobre a arquitetura e o urbanismo se ela não se sentir capacitada para contribuir com alguns dados de realidade. Estas dez conferências foram realizadas com o infatigável desejo de propiciar certezas." p. 13
"Dentro do avião (...) a planície se estende à sua volta. (...) Ela cobre os quatro horizontes e, para dizer a verdade, toda essa paisagem é uma única e mesma linha reta: o horizonte." p. 17-18
"Esta viagem torna-se uma missão. Em Buenos Aires sou convidado dos "Amigos da Arte" e da Faculdade de Ciências Exatas. (...) No Brasil sou recebido na Câmara da Cidade de São Paulo. O futuro presidente do Brasil, Sr. Júlio Prestes, está a par de toda a cronologia de nossos esforços. (...) Em cada uma das grandes cidades da América do Sul grupos entusiasmados cultivam a nova idéia." p. 16
"Tentei a conquista da América devido a um motivo implacável e uma grande ternura que dediquei às coisas e às pessoas; compreendi, entre esses irmãos separados de nós pelo silêncio de um oceano, a existência de escrúpulos, dúvidas, hesitações, assim como as razões que motivam o estado atual de suas manifestações, e confiei no dia de amanhã. Sob uma tal luz nascerá a arquitetura." p. 31
Buenos Aires
"Em Buenos Aires convencionamos dividir o tema em dez conferências. A iniciativa coube à Associação dos Amigos da Arte, magistralmente dirigida pela Sra. Helena Sansinea de Elizalde. A Faculdade de Ciências Exatas com seu diretor, (...) Sr. Butti, encarregou-se de quatro conferências e os Amigos de la Ciudad organizaram uma." p. 32
- Conferência I (Amigos da Arte): Livrar-se de todo Espírito Acadêmico, 3 de outubro de 1929
"Devo falar do espírito novo, aos senhores que são o Novo Mundo. (...) Buenos Aires, capital sul do Novo Mundo, é uma cidade de erros, de paradoxos, uma cidade que não é nem de espírito novo nem de espírito antigo. (...) No entanto aqui, no fundo do estuário do rio da Prata, existem elementos fundamentais. São três bases eminentes do urbanismo e da arquitetura: o mar e o porto imenso; a magnífica vegetação do parque de Palermo; o céu argentino." p. 35
"Contam-se nos dedos os países que possuem semelhante topografia e geografia, de onde pode surgir com tanta normalidade uma cidade que seja um posto de comando." p. 36
"A força de onde surgiram monstros - nossas cidades ditas ‘modernas' - essa força que seu próprio elã aumentou poderosamente, em breve saberá expulsar a incoerência, destruir as primeiras ferramentas que usou e, ao substituí-las, introduzirá a ordem, expulsará o desperdício, imporá a eficácia, produzirá beleza!" p. 36
"Algo novo aconteceu: o maquinismo. Um século formidável de conquistas científicas, o séculos XIX, operou a transformação molecular do mundo. Já não nos ligamos mais ao dia de ontem, somos um outro corpo social: nasceu uma época maquinista, ela sucede à época pré-maquinista que remonta bem longe, ao longo da história. Virou-se uma página." p. 37
- Conferência II (Amigos da Arte): As técnicas são a própria base do lirismo, elas abrem um novo ciclo da arquitetura, 5 de outubro de 1929
"Começo traçando a linha que pode separar, no processo de nossas percepções, o domínio das coisas materiais, dos acontecimentos cotidianos, das tendências razoáveis, do domínio mais particularmente reservado às reações de ordem espiritual. Abaixo da linha: aquilo que é. Acima da linha: aquilo que sentimos.
Continuando meu desenho pela parte de baixo, desenho uma, duas três bases. Coloco algumas coisas nelas. Na primeira, Técnica, palavra genérica que carece de precisão (...). Na segunda: Sociológico, uma nova planta da casa e da cidade. E na terceira, Econômico, e evoco estas fatalidades do momento presente (padronização, industrialização, taylorização).
Transponho o limite e penetro no domínio das emoções. Desenho um cachimbo e a fumaça do cachimbo. E, em seguida, um passarinho que voa e, numa pequenina nuvem cor-de-rosa escrevo: Lirismo = criação individual." p. 47
[VER ESQUEMA 1]
"Demonstro o que digo através desta sequência de pequenos desenhos que exprimem, através das eras, a história da arquitetura por meio da história da janela. Disse anteriormente: o objetivo é fazer que o piso se apóie em paredes dotadas de muitas janelas pra iluminar o interior. E esta ingrata e contraditória adstrição (...) marca, no decorrer dos séculos, todo o esforço dos construtores e qualifica a arquitetura." p. 62
"A luz e o ar penetrarão na casa. Que conquista! O jardim (...) torna-se um só [teto-jardim]. Quanto ganho de espaço, que sensação de bem-estar! A casa se apresentará como que suspensa. Que pureza arquitetônica!" p. 53
"Uma linha: é todo o solo disponível (...), entre a ligeira floresta dos pilotis. Construída sobre os pilotis, no ar, a cidade." p. 53
[VER ESQUEMAS 2 E 3]
"É sob os pilotis, que recuperam espaços imensos e em declive, e após garantir a unidade de circulação horizontal (...), que eu soluciono a circulação dos automóveis, em sentido único, num fluxo contínuo (...)." p. 58
[VER ESQUEMAS 4 E 5]
"Prossigo no encaminhamento da minha idéia. (...) Desenho um navio ao contrário. (...) Ali não reina a menor confusão, mas uma disciplina perfeita. (...) Estamos diante de um novo dimensionamento da casa.
Desenho o Secretariado do Palácio das Nações sobre pilotis. São pisos bem iluminados e circula-se bem neles.
Desenho um arranha-céu americano. Estamos diante de um novo dimensionamento da casa." p. 72
[VER ESQUEMA 6]
"A velocidade é outra e é nova. Tudo se solucionará tranquilamente, normalmente, quando as grandes obras tiverem início: a circulação, a vida doméstica livre, os preços baixos, a beleza e a harmonia espiritual." p. 72
[VER ESQUEMA 7]
- Conferência III (Faculdade de Ciências Exatas): Arquitetura em tudo, Urbanismo em tudo, 8 de outubro de 1929
"Hoje trataremos do organismo plástico e, muito em breve, do organismo biológico." p. 77
"Arquitetura é um ato de vontade consciente.
Arquitetar ‘é colocar em ordem'.
Pôr em ordem o que? Funções e objetos. Ocupar o espaço com edifícios e estradas. Criar receptáculos para abrigar o homem e criar comunicações úteis para chegar até eles. Agir sobre nossos espíritos mediante a habilidade das soluções, sobre nossos sentidos por meio das formas propostas e nossos olhos e das distâncias impostas a nossa caminhada. (...) Espaços, distâncias, caminhadas interiores e formas exteriores, espaços exteriores - quantidades, pesos, distâncias, atmosferas, é com isto que agimos. São estes os acontecimentos que estão em causa.
A partir disso confundo solidariamente, num único conceito, arquitetura e urbanismo. Arquitetura em tudo, urbanismo em tudo." p. 78
- Conferência IV (Faculdade de Ciências Exatas): Uma célula na escala humana, 10 de outubro de 1929
"Trata-se, na verdade, de alojar os homens. Em princípio, famílias. Alojar alguém é garantir-lhe certos elementos de importância vital. É assegurar: pisos iluminados; um abrigo contra os intrusos: as pessoas, o frio, o calor etc.; circulação mais rápida entre os diversos cômodos do apartamento, adaptado ao século atual; uma escolha dos objetos da casa.
Estes diversos elementos constituem um organismo material que batizei, em 1921 (Esprit Nouveau): ‘Máquina de morar'." p. 94
"Depois, em 1923-24, aprofundamos a idéia. Expus o mecanismo no livro Urbanismo, no qual as células já se aglomeravam em bairros de cidades. (...) Em 1925, na Exposição de Artes Decorativas, apesar da proibição do Comitê diretor, enfrentando as dificuldades criadas pela direção da exposição (...), construímos de verdade, com todos os detalhes, uma célula inteira de nosso ‘edifício-vila' (...)." p. 99
"Módulos comuns ofereceriam inúmeras combinações. Havia algo de muito novo: não se colocariam portas e janelas em aberturas (...), mas seriam instaladas portas, janelas, armários, aos quais a altura padronizada dos pisos e as distâncias constantes das pilastras possibilitariam fixar com facilidade." p. 100
[VER ESQUEMA 8]
"(...) Notem ainda esta etapa vencida: a casa é feita na fábrica, padronizada, industrializada, taylorizada. Ela é posta num vagão de trem e vai para qualquer lugar. (...) No interior a planta é livre, pode ser disposta à vontade." p. 103
"O aspecto da cidade mudará. Os grandes traçados do urbanismo disporão de uma arquitetura com uma regulamentação de 6 metros, em substituição à regulamentação atual de 3 metros.
Não nos esqueçamos deste fato importante, tendo em vista o momento em que lhes mostrarei como se pode ganhar dinheiro, ao urbanizarmos as grandes cidades (...), por meio da valorização do solo, e como é possível encontrarmos a chave da circulação nas grandes cidades (...) e finalmente como poderemos, com isso, criar sítenses de natureza-arquitetura tão majestosas quanto inesperadas." p. 107
[VER ESQUEMA 9]
- Conferência X (Amigos da Arte): A aventura do mobiliário, 19 de outubro de 1929
"E a aventura? Ah, sim, a aventura do mobiliário? O acontecimento prossegue: a noção de mobiliário desapareceu. Foi substituída por um vocábulo novo: ‘o equipamento doméstico'." p. 126
[VER ESQUEMA 10]
- Conferência V (Amigos da Arte): O plano da casa moderna, 11 de outubro de 1929
"planta livre; fachada livre; esqueleto independente; janelas corridas ou pano de vidro; pilotis; teto-jardim e o interior provido de ‘escaninhos' e livre da acumulação de móveis." p. 127
"A revolução arquitetônica - já que se trata de uma verdadeira revolução - implica diferentes fatores: 1º Classificação; 2º Dimensionamento; 3º Circulação; 4º Composição; 5º Proporcionamento." p. 129
[VER ESQUEMAS 11 E 12]
- Conferência VI (Amigos da Cidade): Um homem = uma célula, células = a cidade: uma cidade contemporânea de três milhões de habitantes, Buenos Aires é uma cidade moderna, 14 de outubro de 1929
"(...) dos elementos plásticos do urbanismo e de seus elementos poéticos.
Em primeiro lugar, na planta: os espaços diversificados (...).
Eis que uma auto-estrada sobre pilotis estende-se a perder de vista.
Dominando as árvores ou correndo no meio de suas copas, entre folhagens e gramados, as ruas ‘elevadas', façamos construções de dois ou três andares (...).
Eis os arranha-céus todos de cristal, que reluzem na atmosfera.
Mas nós permanecemos homens, homens de sempre, com nossos olhos a 1,70 metros a Cida do solo. Eis o espetáculo autêntico da cidade moderna, intensa e ardente: uma sinfonia de vegetação, folhagens, ramagens, relvas e estilhaços de diamantes por entre os bosques. Sinfonia! Vejam com que o lirismo o progresso nos animou, com que utensílios as técnicas modernas nos dotaram. Jamais de viu semelhante coisa! Ah não, pois começou uma nova época, movida por um novo espírito." p. 156-157
[VER ESQUEMA 13]
- Conferência VII (Faculdade de Ciências Exatas): Uma casa - um palácio: o palácio da Sociedade das Nações em Genebra, 15 de outubro de 1929
"A presença desta conferência em um ciclo que chega ao fim tem por objetivo fixar um sentido honesto a um termo que, para nós, significa apenas mentira, pretensão, vaidade, desperdício e profunda imbecilidade. Este termo assim se anuncia: Palácio." p. 159
- Conferência IX (Amigos da Arte): O Plano "Voisin" de Paris: Buenos Ares poderá se tornar uma das cidades mais dignas do mundo, 18 de outubro de 1929
"De repente, para além das primeiras balizas iluminadoras, vi Buenos Aires. O mar unido, plano, sem limites, à esquerda e à direita; acima, o céu argentino repleto de estrelas; e Buenos Aires, esta fenomenal linha de luz começando à direita, no infinito e se derramando à esquerda, no infinito, ao nível das águas. (...)
Conservei esta visão intensa e magistral. Pensei: nada existe em Buenos Aires, mas que linha forte e majestosa." p. 198-199
"(...) Buenos Aires surgiu diante de mim como o lugar do urbanismo da época contemporânea." p. 200
[VER ESQUEMAS 14 E 15]
- Conferência VIII (Faculdade de Ciências Exatas): A "Cidade Mundial" e considerações inoportunas, 17 de outubro de 1929
"O tema que abordarei (...) destina-se mais ao grande público do que aos profissionais que enchem o anfiteatro: arquitetos, engenheiros, estudantes de arquitetura. Ele deveria proporcionar-me a ocasião de estender a noção de arquitetura à própria organização dos tempos modernos ou de, pelo menos, demonstrar que uma certa qualidade do espírito, resultante de uma época da civilização suficientemente manifestada por inúmeras obras, anima todos os empreendimentos humanos, especulativos ou materiais; ele deveria colocar em primeiro plano a função que é a própria fonte de funcionamento da vida, da harmonia e da beleza; quero falar da organização." p. 211
"A cidade mundial é o escritório de negócios do mundo, a sede social da grande sociedade anônima dos interesses do mundo.
Ela deve ser o lugar de concentração da estatística e do documento, o lugar do debate distanciado das paixões, fora das crises." p. 212
[VER ESQUEMA 16]
São Paulo
[VER ESQUEMA 17]
Rio de Janeiro
"Havia excluído o Rio de minha missão arquitetônica na América do Sul porque meu confrade Agache, de Paris, dedica-se, neste momento, aos planos de ordenação da cidade (...).
No entanto, arquitetos do Rio foram me desalojar, em Buenos Aires e, quando cheguei a São Paulo, empresários desinteressados obrigaram-me a vir falar no Rio." p. 230
"Ora, ao largo do Rio, retomei meu bloco de desenhos; desenhei os morros e, entre eles, a futura auto-estrada e o grande circuito arquitetônico que a sustenta e os picos, o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Gávea, o Gigante Deitado eram exaltados por essa impecável linha horizontal." p. 238
"A arquitetura age movida pela construção espiritual. É a mobilidade, própria do espírito, que conduz aos longínquos horizontes das grandes soluções." p. 238
[VER ESQUEMA 18]
"No Brasil, como na Argentina, aliás, l'Esprit Nouveau, nossa revista de 1920, precipitou desejos. Estes países, a Argentina (...) e o Brasil (...) chegaram a um momento em que querem desenhar sua história. Jamais a história dos povos é outra coisa que não a expressão de um ideal contemporâneo, uma fabricação espiritual que é como uma doutrina, uma descrição de si mesmo, uma definição de si." p. 29
"Os senhores, na América do Sul, estão numa região velha e jovem; são povos jovens e suas raças velhas. É o seu destino agir agora. Agirão sob o signo despoticamente sombrio do hard labour? Faço votos de que isso não aconteça, os senhores agirão como latinos que sabem ordenar, organizar, apreciar, medir, julgar e sorrir." p. 238
Le Corbusier, 1929
O Espírito Sul-americano
"(...)
A Europa burguesa é um peso para a América do Sul.
Libertai-vos! A Europa burguesa está virtualmente enterrada. É chegada uma nova hora. A economia geral do mundo vê na América do Sul um devir iminente.
Ora, então:
A América do Sul são os latinos. Eles o provaram, fingindo-se de confeiteiros nessas decorações de tortas de creme que se multiplicam nas balaustradas e nas cornijas de gesso, em todos os estuários, à sombra da digna cidadela ancestral.
De resto, é inegável que os latinos são o sorriso. Linha, sol, proporção, clareza.
No seu coração, uma vassourada nas balaustradas e um pontapé nos confeiteiros! Isto feito, que a América do Sul, acreditando em seu destino, formule seus projetos e desenhe o seu amanhã. Que o planejamento das cidades seja estabelecido. Que ele se traduza em preceitos e em leis.
Criar, decretar, realizar.
Que o Rio tente este desafio: fazer frente, pela arquitetura, à paisagem, e não se entrincheirar atrás daquilo que tão cruamente dizia meu amigo Cendrars: "O que quer que ekes façam com seu pequeno urbanismo, serão sempre esmagados pela paisagem". Creio que por um magnífico desígnio, o homem pode aqui mais uma vez realizar o que a Grécia fez na Acrópole e o que Roma fez nas sete colinas: impor-se à paisagem pela arquitetura certa. A Arquitetura é capaz, pela aritmética de sua linha justa, de integrar toda a paisagem.
(...)."
Cecília Rodrigues do Santos, Margareth da Silva Pereira, 1987
"A história da arquitetura brasileira registra as primeiras viagens de Le Corbusier ao Brasil, e sobretudo a série de conferências que então realiza em São Paulo e no Rio de Janeiro, como momentos singulares, como referências obrigatórias, como grandes acontecimentos. Cristalizando processo de ruptura, a figura do arquiteto francês emerge desses eventos fortemente solidária ao nascimento de uma expressão arquitetônica genuinamente "brasileira" que, embora reconhecida de forma autônoma, é considerada profundamente tributária das suas teorias." p. 10
"De forma concreta, desde 1926, para Le Corbusier, o Brasil começa significar a possibilidade de tornar realidade a proposta de Uma Cidade Contemporânea de Três Milhões de Habitantes, apresentada por ele em Paris, no Salão de Outono de 1922. As notícias chegadas na França, através de Blaise Cendrars e de Fernand Léger, acerca das discussões sobre a construção de uma nova capital para o Brasil, uniram desde então Le Corbusier ao sonho dessa capital: Planaltina, nas cartas de Cendrars e Paulo Prado, hoje Brasília." p. 16
"Sua primeira viagem ao Brasil resultará de contatos pessoais com uma vanguarda intelectual e artística paulista, e suas conferências foram verdadeira iniciação ao movimento moderno em geral e às suas próprias idéias em particular." p. 22
"Para Lúcio Costa sem dúvida, como para Carlos Leão, Warchavchik, Monteiro de Carvalho, Reidy, os irmãos Roberto, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira, Niemeyer e outros, Le Corbusier traria novo estímulo, convencendo os indecisos e realimentando as discussões." p. 23
Mário Pedrosa, 1953
"As teorias de Le Corbusier eram, então, para estes jovens jacobinos, purismo arquitetônico, segundo expressão mesma de Lúcio Costa, o ‘livro sagrado da arquitetura moderna brasileira'.
Por que esta aceitação em bloco das idéias de Le Corbusier? E sua colocação em prática quase súbita? O caráter revolucionário destas idéias foi contagioso para o estado de espírito no Brasil nesse momento. É que, em 1930, o país vivia num clima de revolução."
Cecília Rodrigues do Santos, Margareth da Silva Pereira, 1987
"A partir desta viagem e durante todo o período em que manteve contatos com os brasileiro, Le Corbusier alimentará o desejo de construir no país algo de "grandioso, puro e verdadeiro", que registrasse as transformações do mundo contemporâneo. Desde 1930 ele já escreve: ... são vocês, do Brasil, que podem me dar esta oportunidade."