1953
França
EventoIdiomas disponíveis
English
Português
Marcadores
Planejamento Urbano
Colaborador
Diego Mauro, Ícaro Vilaça & Igor Queiroz
Citado por: 1
CIAM IX: discutindo a carta do habitat
O CIAM 9, ocorrido em Aix-en-Provence, França, entre 19 e 26 de julho de 1953, foi o primeiro congresso onde os chamados “mais jovens” membros do CIAM, alguns dos quais criticaram a instituição do CIAM e seus métodos desde a Segunda Guerra Mundial, viram-se entre outros que pensavam de modo semelhante. Organizado pela velha-guarda do CIAM, ou “anciãos”, e convocada sob o título de “La Charte de L’Habitat” (‘A Carta do Habitat’, em francês no original), as discussões no congresso revelaram o desejo de ambas as gerações de produzirem um documento que seria o corolário para a Carta de Atenas (1943). A produção deste segundo documento foi sugerida pelos membros fundadores no CIAM 7 em Bergamo (1947), proposto novamente pelo grupo francês ASCORAL no CIAM 8 (1951), e discutido exaustivamente no ínterim do encontro em Sigtuna, Suécia (1952).
Apesar de não ser considerado parte da lista oficial dos congressos, o encontro ocorrido em Sigtuna, Suécia - 25 a 30 de Junho de 1952 -, foi notável pela presença de um grande número de jovens membros do CIAM e pela ausência de membros executivos como Le Corbusier, José Luís Sert, Walter Gropius e Sigfried Giedion. Este foi o primeiro encontro do CIAM composto predominantemente por jovens membros, muitos dos quais tornar-se-iam membros do Team 10, incluindo Jaap Kakema, Aldo van Eyck e Georges Candilis. O arquiteto italiano Ernesto Rogers e os jovens membros suíços Rolf Gutmann e Theo Manz também estiveram presentes, dando contribuições importantes para a discussão sobre a nova agenda do planejamento urbano.
O encontro em Sigtuna foi caracterizado por um alto nível de discussão teórica e crescente pressão para que o CIAM formalizasse a participação individual de ‘jovens’ membros, além de grupos juniores e de estudantes. Entre esses novos grupos estava o “Paris-Jeune”, formado por arquitetos franceses estabelecidos em Paris por Georges Candilis, que defendeu que a proposta deles era nova porque combinava o uso da grade e dos princípios do CIAM à pesquisa das condições sociais, econômicas físicas e psicológicas dos assuntos que estavam sendo analisados. O grupo norueguês “Pagon-Norway” (“Pagon-Noruega”) apoiou um jovem grupo independente e ativo que já havia mandado Christian Norberg-Schultz, editor do jornal TEAM, como delegado para o CIAM 8 em Hoddesdon. Apesar de ter sido designado como delegado oficial dos grupos estudantis no CIAM 8, acabou tendo seu papel assumido por Candillis, orador mais desenvolto que ele, no Encontro de Signatuna.
As discussões mais importantes no encontro em Signuta disseram respeito à (centraram-se na) formulação do termo `habitat´, que foi complicada pelo fato dos membros trazerem de os membros terem trazido significados diferentes, como eles fizeram com relação aos termos “logis” e “dwelling” (habitação). Os membros foram incapazes de definir precisamente o que eles queriam dizer com “habitat”, entretanto, eles em geral concordavam que se referia a um ambiente que pudesse acomodar a “satisfação total e harmoniosa, espiritual, intelectual e física” dos seus habitantes. O próprio uso do termo habitat, de acordo com Candilis, representava uma mudança importante no pensamento do CIAM, o qual ele era incapaz de expressar naquele momento, mas que se desenvolveria no curso dos congressos seguintes para representar uma série de valores que os membros jovens associaram com um “olhar mais humano” à arquitetura moderna. O encontro terminou com uma reiteração - por Candilis - de que o CIAM deveria criar a “Carta do Habitat” que guiaria, assim como a Carta de Atenas, o desenvolvimento do urbanismo moderno.
O sentimento comum a todos durante o Encontro de Sigtuna foi de que o CIAM sofria por não ter uma direção. Candilis sentia que o CIAM, “como qualquer organismo que quer se manter vivo… precisava de sangue novo”, acrescentando que a instituição sempre precisou estar em contato com a realidade, implicando em que o CIAM falhou ao fazer ambos. Ele também era da opinião de que o primeiro “revolucionário” do período da arquitetura moderna acabaria com o próximo congresso, momento no qual a velha-guarda desapareceria.
Este tópico da Carta do Habitat veio à luz novamente no CIAM 9, que foi o maior e mais diversificado congresso até então, com mais de 3.000 delegados, membros e obsevadores, além de uma representação sem precedentes tanto de novos membros como de novos países. Entre os que compareceram estavam os veteranos “mais jovens” Aldo van Eyck, Jaap Bakema,Georges Candilis, Shadrach Woods, Theo Manz e Rolf Gutmann. Também comparecendo ao seu primeiro encontro do CIAM numa capacidade oficial como membros do grupo British MARS estavam Alison e Peter Smithson. A velha guarda era claramente incapaz de conceber a cidade em termos do habitat como foi discutido pelos mais jovens no encontro em Signuta, tornando crescentemente claro que havia dentro do CIAM uma divisão entre os antigos e os novos modos de pensar a cidade moderna. Essa ruptura foi mais tarde exacerbada pela ambivalência por parte dos antigos sobre incluir os membros mais jovens nas decisões a respeito do futuro do CIAM.
Os membros “mais jovens” estavam ativos no CIAM IX, participando de reuniões de conselho, escrevendo relatórios de comissões e apresentando a maior parte das grades. Suas soluções arquitetônicas dispunham de uma larga gama de articulações formais e de fundamentações teóricas. Nestas diferenças, não obstante, eles reconheciam o desejo comum de criar ambientes os quais encorajariam relações entre os que nele habitariam, entre o prédio e seus equipamentos, e que acomodaria as necessidades culturais das pessoas. Diversos projetos, incluindo aqueles oriundos de Argel, Chandigarh Sardenha e Jamaica, interessaram aos membros pela maneira com a qual eles se voltaram para as condições locais e as tradições espirituais. O projeto marroquino, intitulado “Habitat para o Maior Número”, de ATBAT – África e apresentado por Candilis e Michel Ecochard capturou a imaginação dos membros “mais jovens” mais do que quaisquer de suas atenções para as condições sociológicas e culturais daqueles para quem eles estavam projetando. Particularmente impressionados estavam os Smithsons, que admiravam esse projeto como um novo modo de pensar e como a maior realização desde as Unidades de Habitação de Le Corbusier em Marseilles.
Os Smithsons apresentaram seu diagrama - sociologicamente informado - “Hierarquia das Associações”- o qual prepararam com os seus colegas do MARS Bill e Gill Howell - e sua “Grade da Re-Identificação Urbana”. Estas contribuições propunham substituir a hierarquia “funcional” de habitação, trabalho, transporte e recreação da Carta de Atenas, pelo que eles chamavam de unidades escalares de casa, rua, distrito e cidade, as quais estavam alinhadas com as propostas iniciais do MARS para a conferência do CIAM VIII, na qual foi recomendado incluir na categoria de povoamentos escalares desde vila até metrópole. A contribuição dos Smithsons adquiriu uma grande importância posteriormente, no relatório de Alison Smithson sobre o Team 10. Entretanto, documentos do CIAM IX revelam que no Congresso em si, as propostas dos Smithsons receberam pouca atenção pelas várias gerações.
Contrariamente às percepções propagadas por publicações sobre o Team 10, o projeto que gerou maior interesse foi a proposta de uma cidade satélite perto de Rotterdam, apresentada por Bakema para o grupo holandês do CIAM Opbouw. A despeito de seu caráter formal ortogonal, o projeto Alexanderpolder foi, juntamente com projetos como os do MARS para o Richmond Park em Londres e o projeto de Lamba e Drew para Chandigarh, baseado na idéia de funções integradoras, as quais se opunham à concepção de zoneamento funcional, que na opinião dos membros “mais jovens”, separava “brutalmente” as funções urbanas.
O congresso foi percebido pela maioria como articulando uma confusa diversidade de opiniões. Contudo, alguns reconheceram que, apesar da larga variedade de visões teóricas, havia similaridades no intuito. Muitos estavam insatisfeitos com os procedimentos e os resultados do congresso que falhara em produzir mesmo um esboço para uma Carta do Habitat. Os membros mais jovens, em particular, foram deixados em profundo desapontamento com o CIAM enquanto instituição.
Annie Pedret
Membros do Team 10 presentes
Mais de 3000 delegados e observadores presentes entre outros:
Jaap Bakema
Georges Candilis
Aldo van Eyck
Sandy van Ginkel
Rolf Gutmann
Bill Howell
Gill Howell
Blanche Lemco
Alison Smithson
Peter Smithson
John Voelcker
Shadrach Woods
Tradução: Diego Mauro e Ícaro Vilaça