1957
Brasil, Distrito Federal
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Cidades Novas
Colaborador
Karine Souza
Citado por: 1
O projeto liderado por Boruch Milman, classificado em 2º lugar, teve em sua equipe os arquitetos João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves.
Como colaboradores estavam Antônio José da Silva, Carlos Fonseca de Castro, Cerise Baeta Pinheiro, Elias Kaufman, José Luís Ribeiro, Milton de Barros, Renato Lima e Yvanildo Silva Gusmão.
O projeto foi divulgado em periódicos na época, como as revistas Módulo, Habitat, Brasília e Acrópole.
Aline Moraes Costa Braga, 2011
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Contemplada com o 2º lugar, essa equipe recém-formada, traçou uma cidade com um eixo em cruz semelhante ao concebido por Lúcio Costa, embora mais rígido e ortogonal.
Em entrevista concedida à autora pelo engenheiro Boruch Milman (Rio de Janeiro, março de 2000), Boruch Milman, contrariando o discurso da maior parte dos arquitetos cariocas que atuaram no Concurso, registra positivamente sua participação e demonstra o otimismo que circundava a escolha por Lúcio: "Éramos um grupo jovem, o que resolvemos tecnicamente, segundo o urbanismo funcional que era vigente na época, Lúcio Costa transformou em poesia, deu asas para a cidade. Eram recorrentes na época as ideias de Gropius, Mondrian, Rietveld, Le Corbusier, e, tais influências, geravam respostas singulares aos problemas urbanos, isso explica o fato dos projetos, em geral, terem inúmeros pontos em comum. Entre nosso plano e o de Lúcio existiam várias semelhanças, o dele era muito mais detalhado. Afirmam que seu relatório era superficial, mas ele sabia exatamente o que estava fazendo, tudo já estava planejado: circulação, habitação, lazer e trabalho: sua experiência sublinhava o valor do seu projeto diante do nosso. Talvez, uma das diferenças entre os dois planos sejam as superquadras, nas quais, ao contrário de Lúcio, localizamos residências de variadas extensões, o que seria menos impactante para a cidade. Também adotamos um projeto modular para as cidades satélites, nelas se repetiriam parte do que planejamos para a capital. Mas não havia dúvidas, por isso não houve fraude, o projeto de Lúcio era o melhor. Nós ganhamos a experiência."
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Quanto ao traçado básico da cidade, item obrigatório do edital, os autores obedeceram a orientação moderna do urbanismo, segundo eles, "tendo em vista os ensinamentos e resoluções dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, adaptando-os, sempre, às peculiaridades e costumes nacionais" (Memorial Descritivo, p.1).
No Memorial Descritivo, podemos perceber as ênfases dadas ao estudo populacional, baseado em dados bastante realistas para a época. Essa escolha acabou tendo como consequência uma preocupação direcionada à habitação, seus tipos e localização, fator interessante do trabalho e também valorizado nas apreciações do júri.
Algumas observações podem ser feitas referindo-se às críticas do júri. É verdade que o centro comercial é isolado, principalmente no que diz respeito às vias de acesso, no entanto, devemos considerar as observações dos autores no memorial, explicando que a área vazia ao redor do centro apresentado no projeto seria para garantir futuras expansões (p.45). Apesar de ser relativamente superficial, a ideia da repetição da zona residencial industrial para a organização das "cidades satélites" representa uma preocupação social que poucos participantes tiveram, inclusive Lúcio Costa.
Segundo Evenson, esse plano talvez represente um dos maiores exercícios da implantação do zoneamento funcional. Plano geométrico que concebia a cidade dividida em três zonas definidas e separadas estimulantemente. Próximo ao lado estaria o distrito governamental, um retângulo alongado, com o complexo de edifícios governamentais ao centro e superquadras residenciais dos dois lados. Após esse setor, separado por um cinturão verde, estaria o centro comercial, enquanto do outro lado, no ponto mais distante, estaria o distrito industrial. Entre a zona comercial e a industrial estaria um distrito residencial para os trabalhadores de ambas as áreas. A ligação dessas áreas era feita por um sistema de ruas maiores. Um só eixo artéria deveria conectar a área industrial e o centro governamental, continuando através de uma ponte que conectava as penínsulas do lago. Uma península deveria ser usada para residência, outra para a cidade universitária. Separando essas áreas, um centro esportivo, um centro militar e uma base aérea (cf. Evenson, 1973, p.121-125).
O júri criticou o isolamento do centro comercial, e a mecânica composição idêntica das dimensões das superquadras. Falaram também sobre a dificuldade para a expansão indefinida dos satélites e a ausência do aproveitamento da parte mais elevada da cidade. A extensão do sistema viário não tinha desenvolvimento perimetral, observando que, em vista da separação dos setores urbanos, os serviços utilitários deveriam ser expansivos. Segundo o júri, a ideia da criação de um distrito comercial totalmente isolado e cercado por todos os lados por um cinturão verde, tendo só um acesso viário direto, parecia não ter relação com a função urbana ou estética. A disposição do desenho apareceu em toda a concepção da cidade como uma coleção de rígidos setores separados. Parece não haver razões para a separação das áreas residenciais dos trabalhadores públicos das comunidades comerciais e industriais. Os planejadores deram a sua razão para localizar as residências perto das classes de trabalho, mas, segundo Evenson, em relação aos trabalhadores do distrito comercial isso não seria válido. Parte das residências públicas não estariam tão próximas aos distritos de negócio quanto às residências planejadas para o distrito comercial (cf. idem, ibidem, p. 121 - 125).
Quanto à implantação em si, é curioso notar que apenas três projetos entre os classificados (Boruch Milmann, Rino Levi e Jorge Wilheim) procuraram trazer o lago para dentro da vida urbana, ocupando as penínsulas laterais e dando a esse importante elemento paisagístico a função de um Sena ou um Tâmisa. Segundo Wilheim, esse afastamento do lago (também existente no risco original de Lúcio Costa) tem a intenção de não comprometer nem limitar a arquitetura e o urbanismo em função da natureza, a obra do homem é sobreposta, dominadora e descomprometida. Reconhece-se aí uma característica da nossa arquitetura inspirada em Le Corbusier. No caso de Brasília, talvez não fosse a melhor solução porque, na monotonia do planalto, uma linha costeira parece ganhar importância primordial (cf. Wilheim, 1960, p.32-35).
BRAGA, Aline. (IM)POSSÍVEIS BRASÍLIAS: Os projetos apresentados no concurso do Plano Piloto da Nova Capital Federal. São Paulo: Alameda, 2011. 402p.
EVENSON, Norma. Arquitectura Ideologia y Ciencia. Teoria y Practica. M. Blume, 1980.
WILHEIM, Jorge. Plano piloto de Brasília. Habitat, nº 40-41, p. 19-29, mar/abr, 1957.