1956
Brasil, Distrito Federal
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Português
Marcadores
Cidades Novas, Planejamento Urbano
Colaborador
Dilton Lopes
Citado por: 1
Lúcio Costa, 1957:
"O cruzamento desse eixo monumental, de cota inferior, com o eixo rodoviário-residencial impôs a criação de uma grande plataforma liberta do tráfego que não se destine ao estacionamento ali, remanso onde se concentrou logicamente o centro de diversões da cidade, com os cinemas, os teatros, os restaurantes etc."
Lúcio Costa, 1995:
"Eu caí em cheio na realidade, e uma das realidades que me surpreenderam foi a rodoviária à noitinha. (...) É um ponto forçado, em que toda essa população que mora fora, entra em contato com a cidade. Então, eu senti esse movimento, essa vida intensa dos verdadeiros brasilienses, essa massa que vive fora e converge para a rodoviária. Ali é a casa deles, é o lugar onde eles se sentem à vontade. (...) Isto tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não é. Quem tomou conta dele foram esses brasileiros verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente. (...) Eles estão com a razão, eu é que estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido para eles. Foi uma bastilha. Então eu vi que Brasília tem raízes brasileiras, reais, não é uma flor de estufa como poderia ser, Brasília está funcionando e vai funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor do que a realidade."
COSTA, Lúcio. Ingredientes da Concepção Urbanística de Brasília, 1995. In: XAVIER, Alberto; KATINSKY, Julio (Org.). Brasília: Antologia Crítica. São Paulo: Cosac & Naify, 2012. Cap. 5. p. 144-146
Eduardo Rossetti, 2010:
[...]"A Plataforma Rodoviária é o cerne do Plano Piloto de Lucio Costa. Sua implantação no ponto ideal do cruzamento dos dois eixos definidos por Lucio Costa, se transforma e se apresenta como um projeto arquitetônico complexo e de grandes dimensões. A Plataforma é o ponto fulcral do tecido urbano de Brasília, determinando um lugar privilegiado, constituindo-se como a gênese do desenho urbano do projeto de Lucio Costa. Neste sentido, ela e se configura como uma infraestrutura urbana fundamental para a consolidação do tecido urbano do Plano Piloto, articulando diretamente os setores conexos e se inscrevendo como espaço estratégico para o funcionamento do Plano Piloto."
[...]"No texto do Relatório do Plano Piloto, Lucio Costa retomaria a questão da Plataforma no ponto 10. Detendo-se com especial atenção, Lucio Costa assinala que a face da Plataforma debruçada sobre o setor cultural e a Esplanada dos Ministérios não seria edificada, enquanto que o centro de diversões deveria ser o vetor da atividade urbana da futura Capital, assinalando sua concepção com referências de caráter urbano inequívocos, devendo este Setor central de diversões corresponder a uma "mistura em termos adequados de Piccadilly Circus, Times Square e Champs Elysées", confirmando a expectativa sobre o grau de urbanidade destes setores e desses espaços urbanos conexos à Plataforma."
[...]"Posteriormente, em meados dos anos 80, quando Lucio Costa é instado a repensar Brasília nas circunstâncias de sua visita à cidade que concebera, ele se surpreende com a cidade-capital factual, culminando naquilo que seria o documento "Brasília revisitada". Em "Brasília revisitada", além de detectar a consolidação de seu Plano Piloto numa cidade vivaz, Lucio Costa se surpreende com a aglomeração popular junto à Plataforma da Rodoviária e seus setores conexos. O grande contingente popular passando, passeando, enfim, vivendo os espaços públicos entre a Plataforma, o Conjunto Nacional, o CONIC, o Teatro Nacional e o Touring Club, ou deslocando-se para o Setor Comercial Sul, ou para o Setor Bancário e para as autarquias. A constatação em muito se diferencia da sofisticada e elegante dinâmica vislumbrada por ele com casas de ópera, cafés, restaurantes... que lembraria mais a visão de urbanidade da Cité Contemporain de Le Corbusier - com mesas e cadeirinhas, xícaras, bule de chá sobre uma badeja - do que a urbanidade amalgamada no meio do cerrado. "
[...] "A Plataforma Rodoviária do Plano Piloto de Brasília possui um grau de urbanidade tão vital para a cidade devido as suas questões de conectividade, usos e valor de espaço público como parte fundamental do chão da cidade-capital, sendo ela vivenciada, experimentada e habitada pelos milhares de cidadãos oriundos de todas as partes do Distrito Federal e do Brasil, que chegam ao Plano Piloto de Brasília justamente através da Plataforma. Hoje, transformada no ponto de convergência entre o centro urbano de Brasília e as Cidades Satélites do Distrito Federal, a Plataforma Rodoviária pode reassumir o vigor de suas funções urbanas, instaurando um novo caráter articulador de Brasília com a nova dinâmica de escala metropolitana que transcorre no território do Distrito Federal."
Nicolas Behr, 1979:
"subo aos céus
pelas escadas rolantes
da rodoviária de brasília
o corpo de cristo
aqui não é pão,
é pastel de carne
o sangue de cristo
aqui não é vinho
é caldo de cana
o padroeiro desta cidade
é dom bosco
ou é padim ciço?"
Nicolas Behr, 1979:
" PLANOS PILOTIS
duas asas partidas
duas pistas falsas
dois traços invisíveis
minha plataforma política
é a plataforma da rodoviária"
BEHR, Nicolas. Põe-sia nisso. 1979
Guilherme Wisnik, 2010:
[...] "O que ficou claro como problema, desde logo, é a ausência de uma escala intermediária: o lugar do comércio, da agitação da vida na rua, do encontro e do conflito. Tudo, enfim, que deu munição ao falso mito de que Brasília não tem esquinas. Essa escala intermediária, no entanto, estava prevista no plano de Costa. Chamada de “gregária”, ela devia existir como um anel em torno da plataforma rodoviária – o encontro entre os eixos –, e assumiria uma forma vernacular, com alusões à rua do Ouvidor e às vielas venezianas, formada por galerias cobertas e pátios internos. Ocorre que, como sabemos, isso não saiu do papel. Tanto por razões de praticidade, quanto porque era o elemento menos desenvolvido do plano de Costa. Dicotômico em essência, o seu desenho não chegou a incorporar convincentemente a escala intermediária, que tanta falta ainda faz a Brasília."
WISNIK, Guilherme. Brasília. O avesso do avesso do Brasil. Drops, São Paulo, ano 10, n. 033.03, Vitruvius, jun. 2010 .